10/03/2009 - 16h31
Terror na Espanha
Atentado de 11 de março completa cinco anos
Seria uma manhã comum de primavera, 11 de março de 2004, não fosse o último dia de campanha para as eleições gerais da Espanha, que ocorreriam dali a dois dias. No horário de pico, as estações ferroviárias de Madri, capital, estavam abarrotadas de estudantes e de pessoas que iam para o trabalho. Foi quando ocorreu o pior ataque terrorista já cometido no país: a explosão quase simultânea de dez bombas nos vagões de vários trens.
Cento e noventa e uma pessoas morreram e mais de 1.500 ficaram feridas naquele que ficou conhecido como o ""11 de Setembro" espanhol, em alusão aos atentados ocorridos em 2001 no World Trade Center, em Nova York, nos Estados Unidos.
Investigações apontaram um grupo islâmico ligado à rede terrorista Al Qaeda, de Osama Bin Laden, como autor do massacre. Vinte e oito pessoas foram processadas, 10 absolvidas e as demais condenadas a penas que chegam a mais de 40 mil anos de prisão. A sombra do "11-M" - como os espanhóis se referem aos atentados - permanece sobre Madri.
Bombas
Três trens que partiram da estação Alcalá de Henares em direção a Atocha, num intervalo de 15 minutos, tinham como passageiros terroristas marroquinos que carregavam 100 kg de explosivos em mochilas. Um quarto trem saiu de Guadalajara, também com bombas.
As explosões ocorreram num intervalo de quatro minutos, entre as 7h36 e 7h40, em três estações diferentes. Três bombas detonaram primeiro em Atocha, matando 34 passageiros em três vagões. Apenas um minuto depois, duas explosões mataram mais 65 em dois vagões em El Pozo del Tio Raimundo, e outra deixou 14 mortos num vagão em Santa Eugenia.
Por último, quatro bombas explodiram a 500 metros de Atocha, na rua Téllez, vitimando 63 pessoas no local. Outros 15 espanhois morreram em hospitais da capital em decorrência dos atentados.
Madri virou um caos, com tráfego interrompido por equipes de emergência e estações de trens e metrô fechadas. Um hospital de campanha foi montado próximo à estação de Atocha para atender centenas de feridos.
O rei Juan Carlos I da Espanha fez um pronunciamento se solidarizando com as vítimas e aconteceram manifestações por todo país, reunindo aproximadamente 11 milhões de pessoas no dia seguinte aos ataques.
Fita cassete
A primeira pista da polícia surgiu com o depoimento de um porteiro que afirmava ter visto, em uma rua próxima à estação Alcalá de Henares, às 7h, três homens em uma van branca, marca Renault Kangoo. Ele desconfiou de um homem vestindo gorro e cachecol - numa manhã de sol - , que saiu do veículo com uma mochila nas costas, rumo à estação.
O veículo, produto de furto, foi abandonado no local pelos terroristas. Dentro da van os peritos encontraram uma sacola plástica contendo restos de Goma 2 ECO, um tipo de explosivo à base de nitroglicerina, fabricado na Espanha e muito usado em mineradoras.
Além do explosivo, foram localizados sete detonadores - seis de cobre e um de alumínio - e uma fita cassete com gravação em árabe de versículos do Alcorão, o livro sagrado do Islamismo.
ETA
Nas primeiras horas após os atentados, as autoridades espanholas culparam o grupo separatista ETA (Euskadi Ta Askatasuna, que em basco quer dizer "Pátria Basca e Liberdade"), que negou a autoria.
Apesar do tipo de explosivo encontrado ser comum em ataques do ETA, os detonadores e, principalmente, a fita cassete, indicavam o envolvimento de terroristas islâmicos. Outros dois fatos reforçaram a tese: numa carta entregue na sucursal londrina de um jornal árabe, na mesma noite dos ataques, e num vídeo deixado próximo de uma mesquita, dois dias depois, grupos islâmicos reivindicam a autoria do "11-M".
O motivo seria o fato do governo de José Maria Aznar apoiar os Estados Unidos na luta contra o terrorismo, enviando, inclusive, tropas espanholas à Guerra do Iraque.
Celular
Foi por acaso que, na madrugada do dia 12, em uma delegacia de Vallecas, bairro de Madri, policiais ouviram um aparelho celular tocando dentro de uma das bolsas de vítimas recolhidas na estação de El Pozo.
Dentro da bolsa eles encontraram uma das quatro bombas que não haviam sido detonadas, com 10 kg de Goma 2 ECO e um detonador de cobre idêntico ao achado na van. O celular estava programado para acionar o alarme, que emitiria um pulso elétrico através do detonador e ativaria os explosivos.
Os agentes rastrearam o cartão pré-pago do aparelho até o comerciante marroquino Jamal Zougam, o primeiro suspeito a ser preso em 13 de março, junto com outros dois conterrâneos. Posteriormente, ele foi reconhecido por testemunhas como um dos participantes do atentado.
Na bolsa, dois cartuchos com explosivos conservavam o embrulho com identificação da origem do artefato. Foi o suficiente para a polícia prender o mineiro aposentado José Emílio Suaréz Transhorras, em 18 de março. Ele teria comandado o "Grupo das Astúrias", que forneceu explosivos à célula terrorista.
Suicídio
Ainda seguindo a pista dos cartões pré-pagos, no dia 13 de abril os agentes do GEO (Grupo Especial de Operações) cercaram um apartamento no bairro Leganés, na capital. Sete terroristas que estavam no imóvel se suicidaram detonando bombas e matando também um policial, a vítima de número 192 dos atentados.
Nos destroços foi encontrado um vídeo contendo ameaças de novos ataques, que aconteceriam na Semana Santa.
Também foi localizada uma casa nas proximidades de Madri onde o grupo planejou as ações e montou as mochilas com explosivos, e outro veículo usado pelos criminosos e abandonado na vizinhança das estações.
Julgamento
Ao todo foram 25 meses de investigações que resultaram num processo de 1.460 páginas, no qual foram processados 28 dos 116 suspeitos, entre autores materiais (2) e intelectuais (3) do crime, colaboradores (5), fornecedores de explosivos (9) e integrantes da quadrilha (9). A sentença foi proferida, após um recesso, em 31 de outubro de 2007.
Dezoito pessoas foram condenadas e dez absolvidas por falta de provas, entre elas Rabei Osman El Sayed, conhecido como "Mohamed o Egípcio". Ele foi apontado como um dos principais idealizadores do massacre.
Entre os principais condenados estão Jamal Zougam - 42.917 anos de prisão pela participação direta nos atentados - e o ex-mineiro José Emilio Suárez Trashorras, sentenciado a 34.715 anos de prisão. Porém, o Código Penal espanhol prevê pena máxima de até 30 anos, como no Brasil.
O nome mais citado no julgamento foi o de Jamal Ahmidan "O Chinês", identificado como chefe operativo dos ataques. Ele se suicidou no apartamento em Leganés.
Ficou comprovado o envolvimento do GICM (Grupo Islâmico Combatente Marroquino), formado por combatentes veteranos do Afeganistão financiados por Bin Laden. A participação do ETA foi descartada.
Na estação de Atocha foi erguido um monumento em homenagem às vítimas do 11 de Março.
http://educacao.uol.com.br/atualidades/11-de-marco-terror-na-espanha.jhtm
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