quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Gravação com ameaças de Bin Laden


FOTOS:
Osama bin Laden (esquerda) e Ayman Al Zawahiri em local desconhecido

10/09/2003 - 15h38
TV mostra suposta gravação com ameaças de Bin Laden.
A rede de televisão Al Jazira, do Qatar, exibiu hoje o que seriam novas gravações feitas pelo líder da rede terrorista Al Qaeda, Osama bin Laden, e pelo seu principal assessor, Ayman Al Zawahiri.

Além de duas fitas de áudio, foram divulgadas imagens, sem áudio, mostrando ambos em uma região montanhosa desconhecida, com áreas verdes, e, em uma das cenas, Bin Laden exibe um rifle na mão esquerda.

O suposto áudio de Bin Laden comemora os atentados de 11 de Setembro e diz que "a verdadeira batalha ainda não começou", segundo a rede de TV CNN.

O discurso atribuído a Bin Laden homenageia os autores dos atentados de 11 de Setembro. "Aqueles que querem conhecer a generosidade e a coragem para possibilitar o triunfo da religião (...) devem tomar o exemplo de Said Al Ghamdi, Mohammed Atta, Khaled Mihdar, Ziad al Jarra, Marwan Chehi e seus irmãos, que Deus os tenha em sua glória", afirma a voz atribuída a Bin Laden.

"Eles aprenderam com a vida do profeta Maomé (...) Falo isso para aqueles que não possuem essas qualidades, para aqueles que não estão dispostos a morrer", diz o suposto Bin Laden.

"Digo a eles, aqueles que estão com medo de escalar montanhas viverão em poços e buracos", acrescenta a voz, numa referência a um verso do poeta tunisiano Abul Kasser Chabbi, que viveu no início do século 20.

Al Zawahiri

A gravação em áudio atribuída a Al Zawahiri promete mais ataques. "Nós dizemos que Allah está com vocês e a nação [islâmica] apóia vocês. Devorem os americanos como os leões devoram suas presas. Escondam [os americanos] no cemitério iraquiano", disse a voz atribuída a Al Zawahiri.

Al Jazira/Reuters
Osama bin Laden (esquerda) e Ayman Al Zawahiri em local desconhecido
"Não somos adeptos dos assassinatos e das destruições, mas vamos, com a ajuda de Deus, cortar todas as mãos que nos agredirem. Queremos dizer [aos ocidentais] que tudo o que viram até o momento foram apenas os primeiros combates e o início do confronto. A verdadeira epopéia ainda não começou", acrescenta a voz atribuída a Al Zawahiri.

"Preparem-se para uma punição por vossos crimes. As mães dos soldados que desejam vê-los vivos devem pedir a vossos governos que os repatriem, porque correm o risco de voltar para casa em caixões".

A gravação pede aos palestinos que "resistam através da Jihad [guerra santa]".

"A ferida da Palestina faz com que o coração de todo muçulmano sangre e nós não permitiremos, com a ajuda de Deus, que os Estados Unidos gozem de segurança enquanto a Palestina e os países do Islã não gozarem dela", acrescentou.

Até o momento não há informações sobre data e locais onde essas gravações teriam sido feitas. Segundo a rede de TV Al Jazira, o vídeo teria sido produzido entre o final de abril e o início do maio deste ano.

A Al Jazira não informou como ou quando obteve a fita, que foi televisionada às vésperas do segundo aniversário dos atentados de 11 de Setembro nos Estados Unidos.

Desde os ataques de 11 de Setembro, vídeos com mensagens da Al Qaeda e gravações atribuídas à rede são divulgados. Em um dos vídeos, Bin Laden assume a responsabilidade dos ataques.

Análise

Os serviços de inteligência americanos procuram indícios ou mensagens secretas nas imagens transmitidas hoje pela Al Jazira, informou um funcionário da Defesa americana.

Estes especialistas também estão analisando a gravação sonora atribuída a Al Zawahiri.

Segundo o funcionário, que pediu anonimato, a análise técnica das fitas e dos vídeos procurará determinar se se trata mesmo da voz da Al Zawahiri, e se é possível extrair delas alguma informação.

Outras fitas

Em maio, a Al Jazira divulgou uma fita de áudio na qual uma voz, que a emissora atribuiu a Al Zawahiri, volta a pedir aos muçulmanos que ataquem alvos dos EUA, de Israel e de outros países.

"Os cruzados [cristãos] e os judeus só entendem a linguagem do assassinato, do banho de sangue e das torres em fogo [referência ao World Trade Center]", disse a voz que seria de Al Zawahiri.

Al Zawahiri é fundador de um grupo extremista islâmico que tentou derrubar o governo do Egito nos anos 90. Tanto Bin Laden quanto seu braço direito provavelmente sobreviveram à operação militar dos EUA no Afeganistão, mas estão desaparecidos.

No dia 8 de abril, uma fita de áudio atribuída a Bin Laden convocava os muçulmanos a promover ataques suicidas e se revoltar contra governos árabes que apoiavam a guerra no Iraque.

Os alvos das declarações eram os governos do Paquistão, Afeganistão, Bahrein, Kuait e Arábia Saudita. "Todos [os governos] foram impostos sobre vocês e uma jihad (guerra santa) contra eles é o seu dever", disse o suposto Bin Laden na fita. A gravação também alertava para o que seria uma extensão dos ataques americanos contra países muçulmanos.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u62884.shtml

EUA continuarão sua ofensiva contra a Al Qaeda


10/09/2003 - 16h51
Bush diz que EUA continuarão sua ofensiva contra a Al Qaeda
O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, disse hoje, véspera do aniversário de dois anos dos ataques de 11 de Setembro, que a rede terrorista Al Qaeda, do dissidente saudita Osama bin Laden, "ainda tem planos contra nosso povo [o americano]" e será perseguida e derrotada.

"As forças do terror global não podem ser apaziguadas, e não podem ser ignoradas. Precisam ser perseguidas, precisam ser encontradas e serão derrotadas", disse Bush em um discurso em um laboratório do FBI (polícia federal dos EUA) em Quantico (Estado da Virgínia, leste dos EUA).

Bush pediu uma legislação antiterrorismo mais rígida, que negue a possibilidade de fiança a suspeitos de atos terroristas e dê aos investigadores mais poder para lançar intimações.

Reuters - 22.ago.2003
O presidente dos EUA, George W. Bush
"Há obstáculos irracionais para processar e punir o terrorismo --obstáculos que não existem quando profissionais que impõem a lei perseguem fraudadores ou traficantes de drogas", disse Bush. "Pelo bem do povo americano, o Congresso deveria mudar a lei e dar a esses profissionais, para combater o terror, as mesmas ferramentas usadas para combater outros crimes".

O discurso de Bush ocorre no mesmo dia em que foram divulgadas mensagens atribuídas à Al Qaeda. A rede, responsabilizada pelos ataques de 11 de setembro de 2001 contra alvos nos EUA, promete mais ataques contra alvos americanos.

Na manhã de 11 de setembro de 2001, dois aviões sequestrados foram lançados contra as torres do World Trade Center, em Nova York, e um terceiro atingiu o Pentágono, na região de Washington. Um quarto avião foi derrubado numa área rural do Estado da Pensilvânia.
FOTO:
O presidente dos EUA, George W. Bush
http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u62886.shtml

O mundo após dois anos do 11 de Setembro

1/09/2003 - 07h24
Artigo: O mundo após dois anos do 11 de Setembro
especial para a Folha Online

Comemora-se hoje o segundo aniversário do ataque que mudou a maneira como todos vivemos; mas estamos vivendo em um mundo melhor. Certamente há críticas à postura dos Estados Unidos como a potência dominante, mas lentamente vão-se consolidando as mudanças iniciadas após os atentados contra as torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York, e o Pentágono, nas cercanias de Washington.

Analisemos os principais elementos do cenário internacional:

1 - A Coréia do Norte voltou a negociar as condições para o abandono de seu programa nuclear e suas ameaças de proliferação. Foram engajados neste processo os atores regionais, aqueles que mais sofrem a pressão de uma eventual retomada do poder de armamento nuclear do país. E os Estados Unidos figuram somente como o promotor do processo.

2 - No Afeganistão, apesar de Osama Bin Laden [chefe da Al Qaeda e responsável pelos atentados terroristas do 11 de Setembro] não ter sido encontrado, foi desestruturada a máquina que dava apoio a sua organização e, ainda que não seja possível eliminar completamente a capacidade operativa do Al Qaeda, certamente tornou-se muito mais difícil arquitetar novos atentados.

3 - No Irã vem amadurecendo lentamente, ao longo dos últimos vinte anos, uma postura pragmática de convivência regional. O governo está ciente das pressões da maioria da sociedade por uma flexibilização, o programa nuclear está sendo acompanhado de perto pelas agências internacionais e sem dúvida nenhuma, o ataque ao Iraque serviu como alerta da capacidade dos Estados Unidos de projetar poder na região.

4 - A Líbia, talvez influenciada pelos acontecimentos mais recentes, volta a aproximar-se da comunidade das nações. Aceitou a responsabilidade pelo atentado contra o avião da Pan Am e propôs-se a indenizar as vítimas em troca do final das sanções.

5 - O Iraque, apesar de todas as críticas, vem se estabilizando paulatinamente; aindas há atentados contra soldados americanos, mas é importante lembrar que estes ocorrem quase que somente na região central onde se concentrava o grupo governante ligado a Saddam Hussein. A Liga Árabe reconheceu a nova estrutura de governo do Iraque o que dá legitimidade no mundo árabe à mudança de regime imposta pelos Estados Unidos. E os atentados perpetrados contra a embaixada jordaniana e a mesquita xiita em Najaf são deploráveis mas provocaram muito menos vítimas que a política genocida do governo deposto; faz parte do processo de eliminação da ameaça terrorista também o controle de grupos que se propõe a minar a consolidação de um novo governo no Iraque. E desapareceu o temor de uma infiltração iraniana via identidade xiita, tornando-se claro que as duas vertentes tem mais elementos que oposição que de convergência.

6 - Em Israel e na nos territórios palestinos, finalmente, pouco mudou; israelenses e palestinos continuam a massacrar-se mutuamente, a proposta de engajamento dos quatro grandes através do plano de paz internacional elaborado pelo Quarteto [EUA, Rússia, ONU e União Européia] resultou impraticável e a discussão continua a girar em torno dos mesmos temas: neutralização de Iasser Arafat, separação unilateral e construção do muro de separação entre Israel e os territórios ocupados. O novo governo palestino durou pouco, já que sem o controle dos grupos palestinos armados [o monopólio do uso da força] não haverá governo efetivo e os israelenses continuarão a se sentir no direito de praticar a política norte-americana de prevenção e preempção.

7 - Questões menos diretamente ligadas à segurança também sofreram grandes transformações. Os controles financeiros implementados para secar a fonte de financiamentos às organizações classificadas como terroristas e os controles impostos ao transito de produtos e passageiros nos Estados Unidos certamente estão influenciando a vida do cidadão comum, mas ainda não há nenhuma reação importante da maioria da população. Eu estava em Nova York no dia do apagão e foi surpreendente, tanto a extensão do seu efeito, como a tranquilidade com que o impacto foi absorvido. Ainda que em um primeiro momento se aventasse a possibilidade de um ataque terrorista a uma central nuclear, não houve nem pânico nem desespero, salvo em casos muito específicos como aqueles que se viram presos por horas nos túneis do metro.

8 - Ainda em relação à ação no Iraque, dissipou-se a atmosfera venenosa entre os Estados Unidos e vários países europeus que se opunham à invasão. Consolidada a ocupação, passou-se a etapa de "divisão do espólio", do qual desejam participar, principalmente a França e a Rússia. A China continua em seu "isolamento esplêndido", concentrada na continuidade de sua bonança econômica.

9 - A economia começou a recuperar-se, pelo menos nos Estados Unidos, que tendem a liderar o resto do mundo. Os grandes déficits norte-americanos parecem estar sendo administrados e a desvalorização do dólar americano tende a melhorar as exportações e a diminuir o déficit da balança comercial. E o petróleo continua a fluir, baseado na identidade de interesses, de produtores e consumidores, na manutenção de uma estabilidade do abastecimento e dos preços.

Há certamente muito a fazer em outras áreas, direitos humanos, ajuda humanitária, liberalização do comércio, questões ambientais. Mas em termos de segurança internacional, das ameaças aos padrões ocidentais de vida consolidados com a derrota da antiga União Soviética, estamos certamente numa posição melhor que em 11 de setembro de 2001.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u62912.shtml

Pós 11 de setembro de 2001


11 de setembro

Parentes e amigos de vítimas do atentado ao World Trade Center se reúnem no "ground zero", local onde ficavam as Tôrres gêmeas, em Nova York, em memória aos dois anos dos atentados que abalaram a America e por muito tempo ainda fará parte da história do da em que atacaram no coração da America. E com certeza a águia esta ferida...
As noticias que fizeram história... Pós 11 de setembro de 2001
10/09/2006
10h32 Especiais da TV relembram o 11/9
11/09/2005
11h51 Análise: Quatro anos depois, Iraque mudou legado do 11/9
09h59 "Feridos" pelo Katrina, EUA lembram 11 de Setembro
02h18 EUA lembram 4º aniversário do 11 de Setembro
14/03/2005
09h31 Aviação dos EUA continua vulnerável após 11/9, diz "NYT"
11/09/2004
06h08 11 de Setembro agravou efeito da "bolha" na economia mundial
11/12/2003
09h23 Justiça alemã libera marroquino acusado de participação no 11/9
16/11/2003
10h20 Homens atiram em carro da ONU e matam francesa no Afeganistão
31/10/2003
06h13 Soldado dos EUA é morto no Afeganistão
26/10/2003
15h04 Casa Branca é acusada de não colaborar em investigação sobre 11/9
20/10/2003
21h51 Ruas de Nova York serão renomeadas em homenagem a vítimas de 11/9
17/09/2003
13h15 Iraque nunca foi vinculado ao 11 de Setembro, dizem EUA
12h10 Nova-iorquino que mentiu ter perdido filho em 11/9 é condenado
14/09/2003
01h08 A democracia não tem fim
12/09/2003
04h18 Arquiteto do novo WTC sofre pressões
03h44 Washington "sequestrou" o 11 de Setembro, diz professor
02h43 Apesar de alerta, NY faz ato "relaxado"
11/09/2003
15h03 CIA reconhece apenas voz de Zawahiri em áudios da Al Qaeda
13h09 EUA fazem minuto de silêncio pelo 11 de Setembro
13h04 Mundo presta homenagem às vítimas do 11 de Setembro
11h50 EUA alertam para risco de ataques maiores que o 11 de Setembro
11h10 Bush vai a igreja e faz um minuto de silêncio na Casa Branca
10h55 Bush abusa de referências a 11/9 em explicações, diz jornal
09h59 Americanos relembram o 11 de Setembro
08h52 Segurança é reforçada no aeroporto internacional do Rio
07h28 Terrorismo é uma ameaça global, diz especialista israelense
07h24 Artigo: O mundo após dois anos do 11 de Setembro
04h12 Bush pretende ampliar medidas contra o terror
03h54 Em clima solene, Nova York lembra ataques
02h52 Doutrina Bush mina elo transatlântico
10/09/2003
22h27 Artigo: Guerra contra o terror
21h44 Novo balanço mostra que atentados de 11/9 mataram 3.021 pessoas
16h51 Bush diz que EUA continuarão sua ofensiva contra a Al Qaeda
15h38 TV mostra suposta gravação com ameaças de Bin Laden
15h26 Brasileiros em NY buscam conforto para esquecer atentados
15h12 Trauma e economia em crise afetam a NY pós-atentados
15h12 Famílias de ilegais mortos no WTC buscam seus direitos
04h24 Iraque explicita limites da política externa dos EUA pós-ataques
09/09/2003
19h33 Suspeito de cumplicidade em ataques de 11/9 é alvo de acusações
10h53 Israel teme ataque da Al Qaeda como o de 11/9, diz governo
07h43 Ruínas do WTC serão usadas na construção de navio de guerra
08/09/2003
18h29 Recursos não chegam a empresas afetadas por ataques de 11/9
15h24 Medo de atentados aumenta entre os nova-iorquinos, diz pesquisa
06h21 Fita promete ação da Al Qaeda maior que a do 11 de Setembro
06h08 Vídeo mostra impacto dos 2 aviões no WTC
07/09/2003
09h24 Terror é eterno, diz especialista
09h21 Mesmo acuada, Al Qaeda ameaça
09h18 "Não sinto mais medo da morte", diz sobrevivente
09h12 Traumatizada pelo 11 de Setembro, NY procura ajuda psicológica
06/09/2003
23h27 Grupo islamita britânico fará homenagem aos autores do atentado de 11/09
FOTO:
Pescador visita memorial no rio Hudson (Nova Jersey), de onde avistava-se as torres do WTC
Aniversário do 11/9 tem alerta dos EUA de novos ataques

Os EUA advertiram os cidadãos norte-americanos no exterior a tomarem cuidado durante o segundo aniversário do 11 de Setembro em meio a "crescentes indicações de que a rede terrorista Al Qaeda estava planejando ataques ainda maiores".

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Terror na África do Sul



Domingo, 25 de Maio de 2008
Terror na África do Sul
Tenho lido, mas agora estou a ver a quantidade de moçambicanos que retornam da África do Sul depois das indescritíveis cenas de terrorismo xenófobo que ali se têm verificado. Rostos de sofrimento, olhos sem esperança, crianças famintas, carrinhas carregadas com os poucos haveres que, na confusão, ainda conseguiram recolher ( mas há quem venha apenas com a roupa que tinha vestida no corpo). E tudo isto perante a passividade das forças de segurança da África do Sul. Impressionou-me ver aquele indivíduo de olhos raiados de ódio a dizer "pagaram-me para fazer isto". Mas quem pagou? Boa pergunta, de complexa resposta. Ou talvez não...
Tarde, muito tarde, altos responsáveis sul-africanos manifestaram a sua vergonha pelos factos acontecidos e pediram desculpas. Como se as desculpas extinguissem as chamas assassinas lançadas para os corpos humildes daqueles que, na terra do "rand", apenas queriam uma oportunidade de trabalho.
O appartheid, de facto, ainda não foi erradicado.

Carro-bomba do ETA explode e deixa 54 feridos

29.7.2009 7h30m

Uma caminhonete-bomba do grupo terrorista ETA explodiu nesta madrugada, em Burgos, na região de Castela e Leão, deixando 54 feridos leves, segundo o jornal "El País". Carregado com 200 quilos de explosivos, o carro estava estacionado próximo ao quartel da Guarda Civil da cidade, entre a Rua Jerez e a Avenida Cantabria.
De acordo com o diário espanhol, o atentado causou danos materiais no edifício de 14 andares da Guarda e nas casas vizinhas, abrindo uma cratera de um metro de profundidade no local. Das 54 vítimas que sofreram cortes e pequenos ferimentos - a maioria agente e seus familiares há 13 mulheres e cinco crianças. Equipes da Polícia Nacional e da Guarda Civil já estiveram no local para prestar ajuda aos feridos. As autoridades começaram a investigar o atentado que, desta vez, ao contrário do que costuma ocorrer nas explosões promovidas pelo ETA, não foi comunicado previamente nem teve a autoria reivindicada.
O ministro de Política Terrritorial, Manuel Chavez, afirmou ao "El País" que a organização terrorista buscava uma "matança generalizada". O último atentado do grupo com carro-bomba ocorreu na noite do dia 9 de julho próximo à sede do Partido Socialista Basco, em Durango, numa ação que não provocou vítimas, somente danos materiais.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Enquanto isso, na internet...




Depois de uma primeira leva de charges e piadas
de péssimo gosto, começam a circular via internet
reações bem-humoradas aos atentados terroristas.
As montagens desta página foram tiradas de sites
como o www.bushfordummies.com. Elas brincam
sobre como os Estados Unidos ficariam se ocorresse
o impensável e o terror islâmico triunfasse: Bush teria barba, a Estátua da Liberdade, um xador, e Nova York seria repleta de mesquitas.

O cofre de mil bocas

3 de outubro de 2001


3 de outubro de 2001

Os americanos se propuseram a matar o terrorismo por asfixia. Pretendem tirar de circulação o dinheiro que financia suas ações, e para isso já convocaram os governos e as principais instituições financeiras do planeta. A tarefa complexíssima é vasculhar as aplicações de grupos, empresas e pessoas suspeitos de envolvimento com terroristas. Na semana passada, o presidente americano George W. Bush chegou a usar um tom ameaçador com os bancos que não colaborarem com a operação sufoco. Bush pretende congelar toda a riqueza que terroristas e seus financiadores porventura tiverem nos Estados Unidos. "Quem faz negócios com terroristas, apóia ou patrocina seus atos não fará negócio com os Estados Unidos", disse na última segunda-feira. A resposta foi imediata. França, Alemanha, Inglaterra, Emirados Árabes, Brasil e Hong Kong, entre outros, toparam a briga. Imediatamente foram congelados contas e bens de 27 pessoas e organizações supostamente ligadas a atividades terroristas – inclusive três entidades de caridade.

A operação comandada pelo governo americano é a maior do gênero realizada até hoje. Normalmente, as ações envolvem apenas dois ou três países. A adesão mais ampla possível é vital, agora, porque grande parte do dinheiro que financia os presumíveis autores do atentado aos Estados Unidos circula fora do território americano. Quem entende de lavagem de dinheiro diz que os recursos dos terroristas vêm de doações de simpatizantes, do tráfico de drogas e até de entidades humanitárias e organizações não-governamentais de aparência absolutamente insuspeita. Calcula-se que só o grupo comandado por Osama bin Laden, o principal suspeito de ter comandado as explosões em Nova York e Washington, tenha um patrimônio de 300 milhões de dólares. Em mercados pequenos, essa fortuna chamaria muito a atenção. Supõe-se que o dinheiro esteja aplicado em grandes mercados, como Frankfurt, na Alemanha, ou Hong Kong, na China.

O plano traçado pelo governo americano tem alguma chance de sucesso? Há um certo otimismo, primeiro porque existe um empenho internacional no combate ao terrorismo. Depois, porque atualmente a maioria dos países está equipada com leis contra o crime de lavagem de dinheiro e entidades especializadas nesse tipo de investigação. E finalmente porque a tecnologia trabalha a favor do mutirão antiterror. Se tudo der certo, poderá ficar menos difícil cruzar dados provenientes de quadrantes opostos do planeta. As dificuldades são evidentes, mas não desanimadoras. A primeira está no fato de que parte do dinheiro utilizado pelos terroristas islâmicos passeia de mão em mão pelo mundo. Não deixa trilha nos computadores dos bancos. Estima-se que, dos cerca de 5 bilhões de dólares enviados por paquistaneses emigrados para sua terra natal, só 1 bilhão siga via banco, legalmente. Os outros 4 bilhões são carregados por viajantes, remetidos por doleiros ou por empresas de fachada montadas em paraísos fiscais.

AP
O CAÇADOR
Jimmy Gurule, subsecretário do Tesouro americano encarregado de combater a lavagem de dinheiro

A segunda dificuldade tem a ver com o excesso de informações. O universo do dinheiro ilegal é imenso. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), todos os anos 500 bilhões de dólares produzidos de forma ilegal ganham roupa nova e entram no sistema financeiro global por meio de algum mecanismo de lavagem. A maior parte desse dinheiro, 400 bilhões de dólares, vem do narcotráfico. Os 20% restantes pertencem a grupos terroristas ou são fruto de corrupção. Hoje, toda a movimentação bancária superior a 10.000 dólares tem de ser informada ao organismo regulador do governo. As ocorrências são tantas que ninguém dá conta de investigá-las. Agora, os bancos pretendem concentrar-se em operações maiores – e vasculhá-las de fato. "O resultado da operação americana não será imediato, mas cedo ou tarde a assinatura financeira do esquema de Laden será identificada", diz Eduardo Sampaio, diretor-presidente da Kroll Associates Brasil, empresa multinacional de detetives financeiros.
http://veja.abril.com.br/031001/p_106.html
FOTOS:
02-SEM RASTRO
Cambista em Cabul movimenta dinheiro que circula fora dos bancos
02-O CAÇADOR
Jimmy Gurule, subsecretário do Tesouro americano encarregado de combater a lavagem de dinheiro.

A guerra de noticias....

3 de outubro de 2001






Às 8h49 do dia 11 de setembro, apenas quatro minutos depois de uma das torres do World Trade Center ser atingida por um avião seqüestrado, a rede americana de notícias CNN transmitiu as primeiras imagens dos atentados terroristas que abalaram os Estados Unidos. Desde então, ela acompanha os desdobramentos da tragédia com um batalhão de mais de 1 000 jornalistas mobilizado em tempo integral. Mantém profissionais em alerta em dezessete países considerados "quentes", especialmente no Oriente Médio. E é o único canal que ainda conta com dois correspondentes num Afeganistão cada vez mais isolado pela ameaça de guerra. Dez anos após se tornar a principal grife jornalística da TV mundial, com sua estupenda atuação na Guerra do Golfo, a CNN se encontra de novo em terreno que domina como ninguém: a cobertura intensiva de um evento político e bélico de repercussão planetária.


Não têm faltado críticas à emissora, que vem batendo recordes de audiência desde o dia dos atentados (veja quadro ao lado). Acusam-na de fazer "patriotadas", de manipular informações, de haver assumido uma linha editorial para ajudar os Estados Unidos a instaurar um clima de opinião que lhe seja favorável. Um ataque inusitado à rede partiu do Brasil – onde as imagens da emissora podem ser conferidas em dois canais pagos, a CNN International, em inglês, e a CNN en Español. Um aluno de sociologia da Universidade de Campinas, Márcio A.V. Carvalho, espalhou na internet o boato de que a CNN exibia imagens antigas como se fossem as de palestinos que comemoravam os atentados do mês passado. O objetivo da emissora seria criar uma onda global de animosidade contra muçulmanos. Tudo bobagem. Ao contrário do que supõem os mal informados, a CNN, fundada pelo milionário Ted Turner em 1980 e hoje pertencente ao grupo AOL Time Warner, está longe de ser um órgão a serviço do establishment americano. Nos Estados Unidos, ela ocupa uma posição à esquerda no espectro político. A direitona patriótica sintoniza mesmo é a Fox News, de propriedade do notório conservador (para dizer o mínimo) Rupert Murdoch. O noticiário da Fox, sim, é de provocar fibrilações nos corações mais liberais. Os críticos brasileiros da CNN logo terão oportunidade de constatar essa diferença – o canal de Murdoch começará em breve a ser veiculado na TV paga do país.


Angeli/Alain Rolland/Maxima Productions

ESTILOS DIFERENTES
A ex-atriz Andrea e Christiane: estrelas da emissora

Em suas coberturas de guerras, a CNN invariavelmente enfrenta as restrições à informação impostas pelo governo americano. "A censura do Pentágono está pior desta vez. Até as notícias mais rotineiras são retidas pelos militares, por medo de que possam ser úteis para eventuais ataques terroristas", disse a VEJA Eason Jordan, executivo-chefe da emissora. Uma das maiores qualidades da CNN é seu esforço para manter-se presente nas regiões mais remotas e conflituosas. No caso do repórter Nic Robertson, o único jornalista ocidental no Afeganistão quando a crise eclodiu, ele havia sido destacado para registrar o julgamento de oito militantes de ONGs dos Estados Unidos e da Europa, acusados pelo regime islâmico de "propagar o cristianismo". Robertson foi expulso do Afeganistão dez dias atrás, mas a emissora conseguiu colocar outros dois repórteres no norte do país, dominado pela oposição ao Talibã.

Nos últimos anos, a CNN vinha passando por uma crise sem precedentes. Em meados da década de 90, duas fortes concorrentes, a Fox News e a MSNB, surgiram para disputar o mesmo nicho de mercado. Entre 1997 e 2000, a CNN perdeu nada menos que um terço de seus espectadores. Para muitos, em momentos de calmaria seu formato noticioso revelava-se "quadrado" e monótono. A rede passou por reformulações de cúpula, demitiu funcionários e tentou, meio desajeitadamente, introduzir algumas inovações. Criou programas mais leves, na linha do jornalismo-entretenimento, e tratou de contratar apresentadoras de rostinho bonito, como a jornalista Paula Zahn e a ex-atriz Andrea Thompson, que atuou num seriado de TV e até posou nua antes de encarar seu tailleurzinho comportado de âncora de telejornal. As mudanças ainda não tinham mostrado muito efeito quando, de repente, os aviões seqüestrados atingiram as torres do World Trade Center e o prédio do Pentágono. A tragédia foi a chance de a CNN reencontrar sua vocação. E dar um banho na concorrência.



ALIADO TECNOLÓGICO
O videofone e imagem enviada por Robertson: equipamento pesa só 8 quilos

Maleta cheia de truques

Imagens exclusivas obtidas pela CNN devem-se a uma engenhoca chamada videofone. Foi com ele que o jornalista Nic Robertson mostrou imagens da capital do Afeganistão, Cabul, sendo bombardeada por forças rebeldes menos de um dia depois dos atentados em Nova York e Washington. O mesmo recurso poderá ser usado por Chris Burns e Steve Harrigan – até a semana passada, os dois únicos correspondentes da TV americana em território afegão –, para enviar reportagens ao mundo. Graças ao aparelho, a rede saiu à frente dos concorrentes em outras ocasiões, como a do terremoto que abalou a Índia em janeiro e a do afundamento do submarino russo Kursk, no ano passado. O videofone dispensa o operador de câmara e cabe numa pasta 007. Ali dentro há minicâmara, telefone celular, monitor e microfone. Peso: 8 quilos. Outra vantagem é que se pode ligar o conjunto até no acendedor de cigarro de um carro. Os dados são enviados por satélite. "Essa é a revolução que fará a diferença nesta cobertura", acredita a repórter Christiane Amanpour, uma das estrelas da CNN.

http://veja.abril.com.br/031001/p_074.html
FOTOS:
01-DIA DE CRISE
A principal redação da CNN, em Atlanta, após os atentados
02-ESTILOS DIFERENTES
A ex-atriz Andrea e Christiane: estrelas da emissora
03-ALIADO TECNOLÓGICO
O videofone e imagem enviada por Robertson: equipamento pesa só 8 quilos
http://veja.abril.com.br/031001/p_074.html

Ele tem sucessor..........!







3 de outubro de 2001

A captura e o julgamento de Osama bin Laden seriam decisivos para aplacar o sentimento de afronta que os americanos experimentaram depois dos ataques a Nova York e Washington. Mas, restringindo o alvo da caçada apenas a Laden, não se iria muito longe na meta de desmantelar o terrorismo que elegeu os Estados Unidos como o altar de sacrifícios de sua guerra santa. Carismático para os fundamentalistas, que o elegeram como herói festejado em diversas comunidades, Laden é só o rosto mais conhecido da organização Al Qaeda, apontada como responsável pelo lançamento dos três Boeing contra o Pentágono e as torres do World Trade Center. Ao lado de Laden, há pelo menos dois outros líderes, tão ou mais perigosos que o barbudo de olhos meigos e sorriso tímido que se tornou o maior símbolo vivo do mal nas últimas semanas. Um é Muhamed Atif, encarregado de assuntos militares da Al Qaeda, um egípcio cujo retrato na página de procurados do FBI está focado apenas o suficiente para que seja reconhecido. Atif poderá ser sucessor de Laden, um dia, mas só se algo acontecer ao verdadeiro cérebro da Al Qaeda, o também egípcio Ayman al-Zawahiri. Foi ele quem avisou os EUA de que haveria uma resposta ao bombardeio de posições terroristas por forças americanas no Afeganistão, em 1998, na represália aos atentados em embaixadas na África. "A guerra começou", afirmou num telefonema a um repórter do Paquistão. "Os americanos podem esperar nossa resposta."

Zawahiri tem 50 anos. É cirurgião pediátrico formado pela Universidade do Cairo, descende de tradicional família egípcia ligada à medicina e, até o dia em que fechou repentinamente seu consultório no bairro de classe média de Maadi, no Cairo, era considerado um homem retraído, de fala mansa e gestos polidos. Na época, 1984, foi preso e interrogado sob a acusação de ter participado do assassinato do presidente Anuar Sadat, três anos antes. Solto, por falta de provas, desapareceu do Egito e assumiu, na clandestinidade, sua condição de sócio-fundador do grupo extremista Al-Jihad, que ainda hoje pratica atentados naquele país. A vida de Zawahiri no exílio segue um guia turístico do terrorismo internacional. Esteve no Sudão, onde iniciou intercâmbio com vários outros extremistas islâmicos, mudou-se para a Somália, preparando atentados que aguçaram sua capacidade de montar armadilhas com explosivos, passou pelo Paquistão, exercendo a atividade médica entre feridos da guerra do Afeganistão contra os soviéticos, e visitou várias vezes a Arábia Saudita. "A experiência dele é muito mais ampla que a de Laden", disse ao The New York Times o especialista egípcio em terrorismo Dia'a Rashwan. "Praticamente todos os casos envolvendo extremistas islâmicos nas últimas décadas têm alguma relação com ele."

O médico se tornou um estrategista. Nos países árabes, montou uma rede de apoio junto a investidores com negócios legais que já reúne mais de 130 contribuintes. Destes, 65 possuem negócios ou subsidiárias em território americano. Isso tem facilitado a presença de terroristas dentro dos Estados Unidos com vistos absolutamente legais, como funcionários dessas companhias. O próprio Zawahiri, usando um de seus outros nomes – Abu Muhamed, Abu Fatima, Muhamed Ibrahim, Abu Abdallah ou Abu al-Mu'iz –, pode ter obtido um green card, o cartão de identificação de imigrante legalizado nos EUA, segundo investigadores que tentam reconstituir sua biografia. O governo do Egito encontrou pistas dele, ao longo dos anos 90, em lugares como Genebra e Copenhague. Na Dinamarca, ele teria editado um jornal para extremistas islâmicos. Durante todo esse percurso, "o doutor" ou "o professor", como é tratado muitas vezes pelos companheiros, foi compondo uma rede de apoio a várias organizações. Não foi por acaso que parte dos autores dos atentados realizados três semanas atrás passou pela cidade alemã de Hamburgo. Lá vivem 80.000 muçulmanos. A polícia do país diz que 2.450 estão ligados a grupos terroristas.

Desde que se juntou a Laden, na década de 90, Zawahiri é o planejador da Al Qaeda. Foi ele quem desenvolveu a teoria de que há atentados que não devem ter sua autoria reivindicada pelo grupo executor. Nesses casos, além de provocar mortes e pânico, os atos têm também o objetivo de confundir os investigadores e deixá-los em situação difícil diante da opinião pública de seus países. A estratégia já se popularizou e dá resultado a ponto de semear dúvidas como as que levam autoridades européias a exigir dos Estados Unidos as chamadas provas concretas da atuação de Laden nos episódios do Pentágono e do World Trade Center. Outra tática atribuída ao médico terrorista, esta desenvolvida em sociedade com Muhamed Atif, é manter militantes adormecidos em outros países até o dia em que podem ser utilizados em determinadas ações. São essas táticas que estão tornando um inferno a vida do vice-diretor do FBI, Tom Pickard, o homem encarregado de montar o quebra-cabeça escondido nos destroços dos atentados. A lista de supostos seqüestradores, que tinha dezenove nomes um dia depois dos atentados, pode encolher para dezesseis. Apenas sobre três deles – Mohamed Atta, Marwan al-Shehhi e Ziad Jarrahi, cada um num vôo diferente – as certezas eram absolutas.

Em Nova York, a sede local do FBI, a oito quadras das torres gêmeas, foi um dos locais atingidos pelo colapso dos telefones logo depois dos atentados. Os agentes chegaram a imaginar que poderiam ser o próximo alvo dos terroristas. Por isso, os trabalhos foram transferidos para uma oficina mecânica das imediações. Em algumas horas, foram instaladas 300 linhas telefônicas, para que funcionários de 25 diferentes agências governamentais pudessem trabalhar lado a lado. Três dos homens apontados como terroristas já vinham sendo investigados anteriormente e um tinha sido até filmado em Kuala Lumpur, na Malásia, junto com extremistas que participaram do atentado ao destróier Cole, no Iêmen, um ano atrás. Mas os avanços apareceram no fim da semana passada. Primeiro, a rede de televisão ABC entrevistou um desertor da Al Qaeda que contou ter sido treinado com dezenove pessoas em campos do Afeganistão para missões parecidas com as realizadas há três semanas. Depois, soube-se que mais de 300 suspeitos foram detidos em vários países com base em informações enviadas pelos Estados Unidos. Mas isso pouco adianta, segundo o raciocínio de especialistas. Um guerrilheiro disposto a morrer por sua causa não tem nenhuma razão para revelar segredos ao ser preso. Mais surpreendente ainda foi a divulgação, feita pelo jornalista Bob Woodward, do Washington Post, de que o FBI achou um manual de procedimentos que o seqüestrador Mohamed Atta abandonou numa bolsa deixada no Aeroporto Logan, em Boston. O texto, em árabe, mistura um guia de viagem com uma cartilha do crime. Diz, por exemplo: "Cheque sua bolsa, suas roupas, facas, documentos". E recomenda: "Quando entrar no avião, (reze) 'Oh, Deus, abra todas as portas para mim'. (...) A Deus nós voltaremos".
O difícil, para os investigadores, é estabelecer ligação entre os recursos que os terroristas usaram nos EUA e as fontes tradicionalmente ligadas ao financiamento dos grupos islâmicos. Já se sabe que, antes de partir para a missão suicida, vários deles remeteram dinheiro que ainda tinham para instituições de outros países. Também estão sendo rastreadas as contas de um cartão de crédito que pagou algumas das passagens aéreas e automóveis alugados. O congelamento de 27 contas bancárias teve pouco impacto nos EUA, mas seu desdobramento, mundo afora, vai causar danos reais ao patrimônio do terrorismo. No Paquistão, três contas foram congeladas. Com o aperto sobre os extremistas, os EUA criaram um quadro em que a eventual rendição de Laden, sozinho, seria uma estrondosa vitória diante da opinião pública sem os resultados práticos correspondentes. Nessa hipótese, o dinheiro do terror continuaria intocado, as frentes extremistas se manteriam vivas e, o pior, escaparia do cerco o médico Ayman al-Zawahiri, subitamente promovido e à frente de uma organização que já treinou mais de 1.000 soldados do terror.

FOTOS:
01-O MÉDICO É UM MONSTRO
Um dos únicos retratos conhecidos do médico Ayman al-Zawahiri (à dir.): sócio-fundador do Al-Jihad egípcio, acusado pela morte do presidente Anuar Sadat, experiente na fabricação de bombas e grande estrategista do terrorismo fundamentalista islâmico. Laden entra com o carisma, um segundo extremista cuida das ações militares e ele planeja os grandes atentados e articula uma rede de apoio que tem mais de 130 contribuintes nos países árabes
02-HERÓI DO AVESSO
Para os islâmicos fundamentalistas, o terror de Laden e sua Al Qaeda tem sabor de vingança
http://veja.abril.com.br/031001/p_094.html

domingo, 16 de agosto de 2009

O vírus anti-EUA






O MUNDO A SEUS PÉS
Os manifestantes pisoteiam a bandeira americana em protesto no Paquistão na semana passada

Em tempos de paz, o antiamericanismo no Ocidente é uma postura inofensiva, adotada por gente que veste jeans, toma Coca-Cola, come hambúrguer e manda os filhos para os parques da Disney World. Nas conversas dessas pessoas, os americanos são descritos como senhores do mundo mas superficiais, imersos numa cultura consumista e tosca quando comparada aos supostos refinamentos do estilo europeu. Nos dias que se seguiram ao assassinato de milhares de trabalhadores, predominantemente americanos, mas também de dezenas de outras nacionalidades, no ataque terrorista às torres gêmeas em Nova York, o uso político dessa ideologia perdeu a inocência de que habitualmente se reveste. Mal se contaram os mortos nos atentados e já viajava pelo mundo a idéia de que os Estados Unidos foram, em última análise, os causadores da tragédia que se abateu sobre eles.


AP
A GUERRA NO CAMINHO
Manifestante solitário ergue um cartaz pacifista em Los Angeles: oposição começa em casa


Por mais graves que tenham sido os erros e até os crimes cometidos pelos americanos em sua expansão imperial no decorrer do século que se encerrou, as críticas de que foram alvo em demonstrações pelas capitais do mundo na semana passada eram elas próprias um atentado ao bom senso. Em Berlim, 15 000 jovens saíram às ruas para protestar contra os americanos, que já movimentavam suas forças bélicas para atacar os ninhos do terror no Afeganistão. Em Nápoles também houve protestos. Em Atenas, a mesma coisa. No México e na Espanha, esquerdistas picharam muros com o nome e o rosto do terrorista Osama bin Laden, celebrando-o como herói. No Brasil, os protestos foram mal disfarçados em atos pela paz convocados por partidos de esquerda e ONGs no Rio de Janeiro e em São Paulo. Manifestações antiamericanas como essas, num momento de genuína consternação planetária contra o ato terrorista, são intrigantes.

Entre os povos árabes e outras etnias que seguem o islamismo, as causas da aversão aos americanos são mais compreensíveis. A democracia e a modernidade a que se expõem os islâmicos no contato com os Estados Unidos são venenos para as elites locais. Em dois terços dos países islâmicos, os religiosos têm poder de Estado. Os mulás controlam a vida social, política, militar e econômica dos países. Definem comportamentos, estabelecem quem são os inimigos e amigos do país. Nos mais radicais, como o Afeganistão, de onde a televisão e a internet foram banidas, até o tamanho da barba é definido pelo Estado teocrático. "Para os líderes religiosos desses países, a simples existência de uma nação como os Estados Unidos já é assustadora. Mas o pavor mesmo vem do fato de os Estados Unidos não serem uma nação qualquer, mas uma potência hegemônica com interesses econômicos e presença física e militar em regiões islâmicas", diz o professor de filosofia americano Mark Hadley. Num ambiente assim, satanizar os EUA é uma opção política quase natural. Jovens pauperizados e sem esperança de progresso material ouvem dos tiranos que os governam que a causa de sua miséria é externa. Dessa maneira, os governantes árabes colocam nos Estados Unidos a culpa pela própria falta de iniciativa para promover o bem-estar do povo.

Mas como explicar o sentimento de aversão ao modo de vida americano em capitais do Ocidente, onde se realizaram as passeatas da última semana? "O oportunismo das manifestações foi evidente. Mas será que as raízes do ódio aos Estados Unidos penetraram mais fundo do que se imaginava até então?", perguntava a revista inglesa The Economist. Realmente, o luto durou pouco demais. Ele se manteve apenas até o momento em que a formidável máquina de guerra americana começou a exercitar suas garras em frente das câmaras de televisão. Bastou que circulassem as primeiras imagens dos caças F-16 e dos porta-aviões americanos pelas redes de televisão para que o fervor antiterrorista fosse remodelado para uma mobilização contra a guerra de vingança dos americanos. "O número de pessoas que ainda estão chocadas com o atentado é avassaladoramente maior que o daquelas que o viram apenas como mais uma oportunidade de apedrejar os Estados Unidos", escreveu Anatol Lieven, um estudioso americano da Rand Corporation, instituição semi-oficial que há décadas assessora sucessivos governos americanos na área estratégica e foi instrumental durante os anos da Guerra Fria. Mas não se deve invalidar o argumento de Lieven apenas por sua clara filiação ideológica.


AFP
AP
PROTESTO
Jovens em Berlim seguram cartazes com dizeres: "Parem a guerra. Civilização é genocídio". Na Índia, a queima da bandeira

A reação antiamericana foi quase instantânea e disseminada por muitas capitais do mundo. Nos países islâmicos, parecia um teatro orquestrado e perfeitamente natural. Fora dessa esfera onde Alá é a bússola dos povos, tinha a aparência de uma erupção deslocada, uma interrupção aos gritos de um processo de luto. A livre discussão das idéias é sempre um oxigênio na vida das nações porque libera pressões modernizantes que de outra forma ficariam represadas. Mas, no caso das manifestações da semana passada, o que se viu em muitos lugares foi a união velhaca de raposas da esquerda e da direita, fazendo seu proselitismo. Sob a mesma pregação contra os valores americanos, estiveram na última semana forças ideologicamente tão distantes quanto as representadas por Jean-Marie Le Pen, um racista declarado, líder da extrema direita francesa, e, por exemplo, parte da intelectualidade engajada do Brasil. Le Pen esqueceu sua plataforma política de ódio aos imigrantes de origem árabe para se entregar à tentação de colocar a culpa dos atentados nas próprias vítimas. "Os atentados são condenáveis, mas a política externa americana danosa está na origem da tragédia", disse Le Pen.

Com ligeiras variações foi o que se ouviu de alguns porta-estandartes da esquerda brasileira e também de representantes indistintos da tolice nacional. Ato terrorista é culpa de terrorista em qualquer país que seja cometido. Em artigo no jornal Folha de S.Paulo, na segunda-feira passada, o historiador Boris Fausto, um dos mais respeitados em seu campo de atividade, escreveu o seguinte: "Depois de apresentar as condolências de praxe, essa gente (círculos nacionalistas e de esquerda) acaba dizendo, até com certo prazer, que os Estados Unidos colhem o que plantaram". Reconhecendo os "erros e barbaridades" da sociedade americana, Boris Fausto ressalta o papel vital dos EUA na preservação da democracia e termina por convocar seu leitor a uma escolha: "Ou será que deveríamos lavar as mãos diante da face sinistra dos mensageiros da morte?".

Primitivo como ideologia de mobilização de massas, o antiamericanismo é um fenômeno que merece reflexão. Ele tem razões psicológicas, econômicas, religiosas, étnicas, geográficas e, certamente, ideológicas. Quase todos os países do mundo com algum peso político expressivo atraem simpatizantes e detratores. A má vontade com os Estados Unidos tem o tamanho de seu poder de maior potência militar e econômica do planeta. Resultou em parte das tensões geradas pela expansão americana, um atrito que se iniciou nas primeiras décadas do século passado e adquiriu velocidade estonteante às vésperas da entrada no terceiro milênio. A globalização econômica também carrega a impressão digital de asiáticos e europeus, mas é percebida quase universalmente como benéfica preferencialmente para os americanos. "O ritmo que a crescente eficiência e a produtividade dos Estados Unidos imprimiram à economia mundial nas duas últimas décadas foi muito forte", diz o economista americano Paul Krugman. "Em muitos países, ele provocou um processo de destruição criativa, que, se foi benéfico por um lado, por outro dilacerou tradições culturais e gerou insatisfações profundas."

A força avassaladora do modelo americano criou sentimentos planetários de insegurança e impotência. No plano econômico, registrou-se uma obsolescência dos parques industriais de alguns países na confrontação com modelos mais eficientes de produção de riqueza. Mercados antes protegidos foram inundados por produtos mais baratos e melhores que aqueles fabricados localmente. O movimento de globalização gerou prosperidade e eficiência econômica sem precedentes para muitas nações, e não apenas para os Estados Unidos. Mas, ao enfraquecer setores industriais tradicionais de economias retardatárias, gerou também muita insatisfação. No campo político, muitos países sentiram minada a própria soberania, à medida que o foco de muitas decisões importantes se transferia para Washington e Wall Street. Até nações poderosas acusaram o golpe dessa guinada de poder em direção aos Estados Unidos. "Quanto mais fortes eles ficam, mais estrondosa será a queda. Todo império termina em espetáculo", escreveu no The Times de Londres Matthew Parris, político do partido conservador inglês.

AFP
MISTÉRIO HOLANDÊS
A imagem acima foi apreendida por policiais holandeses numa escola para crianças islâmicas: ela ilustra um calendário feito no começo do ano. Os dizeres em árabe: "Com ajuda de Alá morrerei por Alá"

De um lado é típico dos impérios, em todos os tempos, atrair desafiantes ousados e doses cavalares de antipatia. Foi assim com os romanos na Antiguidade e com a própria Inglaterra. Por outro lado, é curioso que potências que exerceram ou exercem seu poder de modo muito mais discricionário que os Estados Unidos não tenham atraído tanta antipatia das classes bem pensantes do mundo civilizado. A União Soviética despencou sobre si mesma numa implosão monumental de ineficiência e soberba sem que seus crimes hediondos tenham gerado metade da exasperação que a presença americana no mundo desperta. Hoje em dia, a própria China, um regime ditatorial expansionista, só pareceu incomodar o universo das "classes conversadoras" por ocasião do massacre de estudantes na Praça da Paz Celestial, em Pequim, no ano de 1989.

Não existem impérios inocentes. Nenhum país chega à posição de líder guindado pela ingenuidade. Os Estados Unidos com freqüência são ainda arrogantes e até hipócritas. As posições recentes dos americanos renegando acordos internacionais de proteção ecológica, como o de Kioto, aliadas ao fato de serem eles os maiores produtores de gases poluentes do planeta, certamente não atraem simpatia. A recusa em bancar suas obrigações financeiras como membros da Organização das Nações Unidas, a ONU, soa para muita gente como um desprezo para com a comunidade internacional. A nação mais rica do planeta não pode alegar falta de recursos nesse caso. É um tapa na diplomacia mundial o governo americano levar criminosos de guerra a tribunais internacionais, como fez recentemente com o ex-presidente da Iugoslávia Slobodan Milosevic, ao mesmo tempo que veta o direito de outros países e organismos internacionais de processar seus próprios cidadãos. Ações como essas causam ressentimento. Mas seriam elas suficientes para atrair um atentado terrorista da magnitude do que destruiu as torres gêmeas? Só da perspectiva de lunáticos. Também não se pode sacar uma justificativa da conta de ressentimentos acumulados em meio século de Guerra Fria. Foi um período de ódios e transgressões, no qual o império soviético sempre se destacou como muito mais ousado em suas investidas contra a soberania de outros países.

Há provavelmente alguns sentimentos mais simples, menos reflexivos, na gênese do antiamericanismo que se observa nos salões dos letrados. "O antiamericanismo em Paris e Londres é resultado de um pouco de irracionalidade, modismo e ignorância mesmo", diz o inglês Bryan Appleyard, autor de um artigo sobre o tema publicado pelo jornal londrino The Sunday Times e reproduzido no Brasil pelo jornal Estado de S. Paulo. Pode-se acrescentar outro ingrediente, a inveja pura e simples. Como lembra Appleyard, os Estados Unidos atualmente têm mais escritores, músicos e pensadores de projeção mundial do que todos os países da Europa. A cultura americana é dominante no mundo. E não apenas a cultura pop. "Os americanos são hoje os mais inteligentes, mais educados e cultos povos do planeta", escreveu o articulista inglês. "São pelo menos trinta as universidades americanas onde nossos melhores e mais brilhantes alunos seriam considerados apenas medianos." Ele diz que o antiamericanismo se alimenta também da memória seletiva de seus cultores. Eles não deixam os pecados do passado morrer de velhos. Ao mesmo tempo, nunca se lembram das grandes conquistas humanitárias dos EUA no passado. Foram os caipiras da América que em três oportunidades no século que passou salvaram a refinada civilização européia do caos. Na I Grande Guerra, as tropas do general Pershing desempataram uma cruel luta de trincheiras em que toda uma geração de jovens europeus apodrecia entre o tifo e a gangrena. Na II Guerra, libertaram primeiro a França e a Itália e depois toda a Europa do nazi-fascismo. Em seguida, financiaram a reconstrução do continente com o Plano Marshall. Antes que o século acabasse, os americanos liquidaram, sem violência, outro regime bárbaro, o comunismo soviético. Claro que tais feitos não concedem imunidade eterna aos Estados Unidos. Pelo mesmo raciocínio, também seus erros passados não deveriam pairar sobre eles como uma condenação perpétua. Ao menos na hora do luto.

FOTOS:
01-O MUNDO A SEUS PÉS
Os manifestantes pisoteiam a bandeira americana em protesto no Paquistão na semana passada
02-A GUERRA NO CAMINHO
Manifestante solitário ergue um cartaz pacifista em Los Angeles: oposição começa em casa
03-PROTESTO
Jovens em Berlim seguram cartazes com dizeres: "Parem a guerra. Civilização é genocídio". Na Índia, a queima da bandeira
04-MISTÉRIO HOLANDÊS
A imagem acima foi apreendida por policiais holandeses numa escola para crianças islâmicas: ela ilustra um calendário feito no começo do ano. Os dizeres em árabe: "Com ajuda de Alá morrerei por Alá"
05-

A maquina de guerra norte americana...







Eles estão preparados para o comfronto que pelo geito e inevitavel...

A ratoeira está armada





3 de outubro de 2001
A ratoeira está armada
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O palco da guerra
A frota do porta-aviões USS Theodore Roosevelt

Devido ao terreno e à disposição de luta de seus habitantes, o Afeganistão, cujo território é pouco maior que o Estado de Minas Gerais, é um desafio a qualquer força militar. O inverno rigoroso começa dentro de um mês e dura até abril. A neve bloqueia as principais passagens, especialmente no norte, tornando difícil, quando não impossível, o movimento de tropas. "A temperatura cai para 40 graus negativos, e o vento frio, a neve e as tempestades reduzem a capacidade de luta de qualquer unidade militar, mesmo a mais bem equipada", diz o general Himmat Singh Gill, do Exército da Índia. Como adido militar em Cabul, ele viu de perto a humilhação do Exército Vermelho pelos guerrilheiros afegãos, nos anos 80. Até os pilotos soviéticos, acostumados a operar no inverno no próprio país, achavam impossível voar em meio às nevascas afegãs. Um sargento das forças especiais inglesas que ajudou a treinar guerrilheiros afegãos nos anos 80 diz que nas montanhas a neve pode facilmente atingir a altura do peito de um homem.

Na semana passada, os Estados Unidos já tinham armada a ratoeira para decepar a cabeça das células do terror que se aninham nesse território hostil. A principal meta é capturar os militantes do Al Qaeda, do saudita Osama bin Laden, o principal suspeito dos atentados terroristas de 11 de setembro em Washington e Nova York. O cenário da batalha foi traçado na forma de círculos concêntricos. No anel exterior fica a poderosa força naval dos americanos. Na sexta-feira já estavam posicionadas três frotas capitaneadas por porta-aviões nucleares que podem ficar no mar por meses a fio sem reabastecimento. A caminho da região, outro grupo de batalha flutuante formado por treze navios de apoio se juntaria à esquadra. Ao todo, são três centenas dos mais modernos aviões de combate do mundo e 35.000 homens. O objetivo primordial da frota é garantir o domínio do espaço aéreo numa região que vai de Israel à fronteira do Afeganistão com a China. Nessa imensa área, atualmente nem um pardal voa sem ser detectado por algum radar americano. No círculo intermediário, estão o Paquistão e as antigas repúblicas soviéticas que fazem fronteira com o Afeganistão. Nesses pontos todos, já atuam unidades de combate das chamadas forças especiais. São contingentes dos famosos Boinas Verdes, das SAS inglesas e da misteriosa Força Delta, cujo quartel e efetivo poder de fogo nunca foram satisfatoriamente descritos pelos americanos. Anualmente eles fazem um relato secreto a alguns poucos congressistas que, sob juramento, são informados das atividades da Força Delta. Alguns comandos americanos e ingleses já estavam vasculhando montanhas do Afeganistão na última sexta-feira. Um oficial do alto comando americano disse à rede de televisão CNN que as primeiras escaramuças já foram registradas. Cavernas e refúgios dos guerrilheiros nas montanhas tinham sido escarafunchados. Os comandos não detectaram sinal da presença de Laden nem de outros membros de seu grupo.


Fotos AP

A FORÇA DA OPOSIÇÃO
Milicianos da Aliança do Norte numa posição a 60 quilômetros de Cabul: união de etnias minoritárias, o grupo que se opõe ao Talibã não seria aceito como governo no Afeganistão

As incursões do fim da semana passada dão uma idéia de como a guerra será lutada no Afeganistão. Grupos de comandos altamente treinados para sobreviver como os habitantes locais – ou seja, sem necessidade de apoio logístico de suas bases – vão se instalar permanentemente dentro do Afeganistão. Outros grupos móveis, formados por equipes de militares, farão incursões em redutos previamente escolhidos pelas unidades de inteligência. Em alguns casos eles serão lançados de pára-quedas e recolhidos horas ou dias mais tarde por helicópteros enviados de bases nas planícies vizinhas do Tadjiquistão e Uzbequistão, ex-repúblicas soviéticas na fronteira com o Afeganistão. A rigor, essa guerra começou dois dias depois dos atentados a Nova York e Washington, quando as primeiras unidades de comandos e um número não determinado de tropas comuns de divisões aerotransportadas desembarcaram na cidade paquistanesa de Quetta. É uma região-chave, próxima a Kandahar, o quartel-general do Talibã.



BUSH PEDE TOLERÂNCIA
Na presença de líderes sikhs americanos, o presidente Bush defende a tolerância para com as minorias. Depois dos atentados, a polícia registrou vários casos de agressão a membros das comunidades árabe e asiática

A manutenção de bases físicas nos países vizinhos ao Afeganistão é um passo crucial do cerco ao terror. O país que abriga Laden não tem acesso ao mar, o que limita a abordagem militar clássica de conquista pela costa. Essa limitação obriga os americanos a manter as melhores relações com os países vizinhos ao inimigo – ao mesmo tempo em que têm o cuidado de não provocar a ira da população predominantemente muçulmana daquela área. Também por essa razão, a ofensiva diplomática tornou-se o front mais importante da nova guerra. E a guerra está sendo ganha antes mesmo do disparo dos tiros. O esforço diplomático das primeiras semanas já promoveu o isolamento total do Talibã, o grupo islâmico fundamentalista que dá as cartas no Afeganistão e proporciona a proteção de que Osama bin Laden precisa para treinar seus terroristas.

Na semana passada, a Arábia Saudita, a nação mais forte que ainda mantinha laços diplomáticos com o Afeganistão, cortou sua ligação com os talibãs. Os Emirados Árabes já haviam dado o mesmo passo. O Paquistão só não o fez ainda porque a aliança anti-Talibã precisa de seus diplomatas e clérigos para passar aos líderes afegãos os ultimatos e manter uma possibilidade de negociação de última hora. A diplomacia é a parte do esforço de guerra que melhor anda até agora. Os primeiros a dar apoio à guerra americana contra o terrorismo foram os europeus, incluindo a França, que cultiva uma caprichosa rivalidade com Washington, mas entendeu rapidamente a gravidade do momento. A mudança de lado da Arábia Saudita sinalizou para todo o mundo islâmico que a guerra é para valer. Sinalizou também que, com os sauditas ao lado deles, os americanos não podem estar numa cruzada contra o Islã. Querem pegar malfeitores entocados num país islâmico. Isso é outra coisa.



FUGA EM MASSA
A construção de um novo campo de refugiados no Paquistão: geografia do país é um pesadelo para qualquer exército

O azeitamento da diplomacia e o garroteamento dos grupos terroristas no terreno financeiro são tão ou mais importantes nesta guerra que os canhões. Para vencer o terror, Washington precisa da colaboração dos serviços de inteligência de outros países e da ajuda estrangeira para atingir os terroristas onde mais dói, o bolso. Faz parte da estratégia estrangular os recursos financeiros que o terror manipula, sobretudo em paraísos fiscais. Na área diplomática, há uma interessante guinada nos EUA. Como ocorreu na II Guerra, quando o primeiro-ministro inglês Winston Churchill fez aliança com o adversário Josef Stalin, da União Soviética, para abater os nazistas de Adolf Hitler, os americanos estão aceitando como aliado qualquer país que queira ajudar na cruzada contra o fascismo islâmico. Mesmo países com os quais os Estados Unidos tinham atritos são bem-vindos a bordo da aliança.

Na sexta-feira, uma delegação de clérigos paquistaneses, acompanhada pelo chefe do serviço secreto do Paquistão, foi a Kandahar, quartel-general da milícia Talibã, tentar persuadir os mulás a entregar Osama bin Laden. Pode ter sido a última chance de o Afeganistão evitar a represália americana, mas os mulás resistiram. Apenas admitiram ter pedido ao terrorista que deixe o país – "em momento oportuno e por sua própria vontade". Mostraram-se irredutíveis em relação a qualquer tipo de diálogo, declararam-se prontos para o conflito e proclamaram já ter alistado 300.000 voluntários. A delegação de última hora demonstra como o Paquistão está desesperado para evitar uma guerra de resultados imprevisíveis que pode incendiar toda a Ásia Central.


Reuters

Refugiados recebem comida distribuída pela ONU no Paquistão

Pelo menos para o público externo, o governo americano dá sinais de que a operação transcorre sem maiores rivalidades entre seus membros. Claramente, alguns altos funcionários eram favoráveis a uma ação militar mais contundente, mesmo que isso custasse mais antipatia ainda para as posições dos Estados Unidos nos países islâmicos. Nos primeiros dias que se seguiram ao atentado, o governo americano esteve dividido em dois campos rivais claramente distintos. A facção moderada, representada pelo Departamento de Estado, queria caçar os terroristas com armadilhas diplomáticas, financeiras e certa pressão militar localizada. A outra, mais agressiva, liderada pelo Departamento de Defesa, preferia ir à forra contra os Estados acusados de patrocinar o terror. Na semana passada, o presidente Bush deixou claro que, por enquanto, fechou com a tese moderada defendida pelo secretário de Estado Colin Powell. O resultado pode ser decepcionante para quem espera uma guerra que rivalize em espetáculo com o ataque às torres do World Trade Center. Powell optou pelo longo e paciente caminho de reunir apoio internacional ao mesmo tempo que estabeleceu objetivos bélicos bem mais modestos. Se depender de Powell, as ações militares no exterior devem sempre se subordinar aos interesses da diplomacia. Não existem objetivos puramente militares nesse contexto. A idéia é angariar simpatias duradouras e não produzir ódios instantâneos. Como escreveu um colunista da revista The New Yorker, Powell "ficaria feliz em despachar Laden, desarticular sua rede de terror com a ajuda de membros árabes da coalizão – e declarar vitória".

Para tornar ainda melhor a situação para os americanos, as precárias redes de fidelidade tribal que o governo do Talibã havia conseguido montar no país estavam se esfacelando na semana passada. Boa parte do clero e dos milicianos sumiu de vista – não se sabe se os desaparecidos foram guarnecer posições nas fronteiras ou desertaram. As regras de conduta medievais do fanatismo eram mantidas pela coerção policial exercida por 40.000 militares e 300.000 milicianos fundamentalistas. Sem a presença deles nas pequenas vilas, a ordem pública e a obediência à lei estão se evaporando rapidamente. Soldados do Talibã estão invadindo casas na capital, Cabul, e levando à força homens para defender a cidade. Os jovens da etnia minoritária tadjique são os mais visados e carregados para resguardar a parte norte, sob risco de uma ofensiva dos soldados que lutam contra o Talibã sob a bandeira de um grupo chamado de Aliança do Norte. A crueldade está no fato de que esses guerrilheiros, que controlam 10% do país, sejam também, na maioria, da etnia tadjique. Assim, os talibãs levam à força os jovens tadjiques de Cabul para trocar balas com os tadjiques que os combatem no norte.

Muitos moradores já haviam deixado a capital com medo de bombardeios. O temor de uma guerra total fez aumentar nos últimos dias o êxodo de civis para países vizinhos. Antes mesmo que a crise atual atingisse sua fase crítica, Paquistão e Irã já tinham recebido 3,5 milhões de refugiados. Estima-se agora que mais 1,5 milhão de afegãos estejam tentando deixar o país, além de um êxodo interno de 500 000 pessoas. A maioria se dirige ao Paquistão, mas pelo menos 400.000 estão buscando abrigo no Irã, 50.000 no Turcomenistão e outros 50 000 no Tadjiquistão. A fronteira com o Paquistão está fechada e muitos tentam fugir por trilhas nas montanhas. No posto fronteiriço mais próximo que liga Chaman (Paquistão) à cidade afegã de Kandahar, 10 000 pessoas completaram na sexta-feira passada uma semana ao relento aguardando autorização para deixar o país. Não é difícil entender o pânico, em vista da ameaça da máquina bélica americana.

Punir exemplarmente o Talibã não esgota a missão que os Estados Unidos se propuseram. Se o relevo e a vocação de isolamento do Afeganistão são mesmo o laboratório ideal para forjar extremistas e terroristas antiocidentais, é desejável que o país tenha um governo estável. Depois que os fanáticos tenham sido varridos, será preciso enfrentar esse desafio. A opção óbvia é entregar o poder à Aliança do Norte, que reúne uns 12 000 combatentes e se tornou, depois dos atentados, o lado palatável da guerra civil afegã. É uma solução que não daria certo. A aliança controla apenas uma nesga de território e foi duramente atingida pelo assassinato de seu comandante militar, Ahmed Shah Massoud. O crime, cometido por dois terroristas suicidas que se faziam passar por jornalistas, foi atribuído a Laden. Depois, a Aliança do Norte é dominada por membros de grupos étnicos minoritários no Afeganistão. É impensável para as outras etnias que possam ser aceitos como governantes do país. O Paquistão, importante aliado dos Estados Unidos, também não aceitaria a Aliança do Norte, que é apoiada por seu arquiinimigo, a Índia. Depois de expulsar os soviéticos em 1989, os vários grupos guerrilheiros lançaram-se a uma sangrenta guerra civil, movida por rivalidades étnicas, tribais e pelos direitos de controle do contrabando e do tráfico de ópio.

Em linhas gerais, o conflito contrapôs os patanes – a etnia majoritária do centro e sul do país – às minorias étnicas do norte: tadjiques, uzbeques, hazarás e turcomanos. Os talibãs, que surgiram em 1994 e dois anos depois tomaram Cabul, são patanes. Há 10 milhões de patanes no Afeganistão. Compreendem cerca de sessenta tribos de variados tamanhos e importância, cada uma dona de seu território. Cada tribo é dividida em clãs, subclãs e famílias patriarcais. Os tadjiques, que formam a maioria na Aliança do Norte, são quase 4,5 milhões. Uma esperança de reengenharia política do Afeganistão está no retorno do rei Zahir Shah, um velhinho patane de 86 anos exilado em Roma desde que foi deposto do trono afegão, em 1973. Consultado, Zahir gostou da idéia de voltar a Cabul. Os Estados Unidos podem ajudar a Aliança do Norte com equipamento e apoio aéreo – mas parece boa política não enviar soldados para lutar por eles. A história mostra que os clãs e as tribos podem pôr de lado as diferenças quando se trata de combater um inimigo externo. A operação terá sido um sucesso se, no futuro, as tribos afegãs tiverem sido pacificadas não pela guerra mas pelo objetivo comum de se apresentarem ao mundo como um país.

http://veja.abril.com.br/031001/p_040.html

FOTOS:
01-A FORÇA DA OPOSIÇÃO
Milicianos da Aliança do Norte numa posição a 60 quilômetros de Cabul: união de etnias minoritárias, o grupo que se opõe ao Talibã não seria aceito como governo no Afeganistão
02-BUSH PEDE TOLERÂNCIA
Na presença de líderes sikhs americanos, o presidente Bush defende a tolerância para com as minorias. Depois dos atentados, a polícia registrou vários casos de agressão a membros das comunidades árabe e asiática
03-FUGA EM MASSA
A construção de um novo campo de refugiados no Paquistão: geografia do país é um pesadelo para qualquer exército
04-Refugiados recebem comida distribuída pela ONU no Paquistão
05-

Mais uma face do terror





3 de outubro de 2001




ALERTA GERAL
Um operador de negócios em Nova York mantém ao alcance da mão a sua máscara contra gases tóxicos e substâncias radioativas. O acessório de proteção também está sendo distribuído à população de Israel

Um espectro ronda a América: o de um ataque químico ou biológico. Infelizmente, ele ultrapassa o campo da paranóia. Desde os atentados aéreos ao Pentágono e ao World Trade Center, em 11 de setembro, os cenários mais improváveis passaram a ocupar o terreno do possível. O alarme soou depois que o FBI, a polícia federal dos Estados Unidos, descobriu que um dos terroristas suicidas, Mohamed Atta, recolhera informações sobre o funcionamento de aviões normalmente usados na pulverização de venenos agrícolas. Para completar o quadro preocupante, nos pertences de alguns deles foram encontrados formulários para a obtenção de carteiras de motorista especiais. Esses documentos lhes permitiriam dirigir caminhões carregados com produtos químicos. O medo dos americanos fez com que disparasse a venda de máscaras NBC – que dão proteção parcial contra gases tóxicos e microorganismos e impedem o contato com ar contaminado por radioatividade. Fora dos Estados Unidos, o temor também é grande. Em Israel, um dos alvos preferenciais do terror islâmico, o Exército está distribuindo máscaras à população, tal como aconteceu durante a Guerra do Golfo, em 1991.

Há tempos a hipótese de um grande ataque com gases ou germes faz parte do universo dos especialistas em terrorismo. Assim como a de um atentado com armas nucleares. Não é roteiro de filme: ogivas estocadas na empobrecida Rússia ou em um país politicamente instável, como o Paquistão, podem cair nas mãos de um grupo extremista. Os terroristas islâmicos representam a maior ameaça nesse sentido pela simples razão de que não têm nada a perder. Como explica o americano Jonathan B. Tucker, editor do livro Assessing Terrorist Use of Chemical and Biological Weapons (Avaliação do Uso Terrorista de Armas Químicas e Biológicas), organizações com uma agenda política e ideológica definidas dificilmente utilizariam arsenais de destruição maciça. Sua violência é, por assim dizer, mais bem calibrada, direcionada a alvos limitados e específicos. Com isso, não angariam uma antipatia universal à sua causa e não detonam uma repressão mais severa por parte dos governos. Já fanáticos, como os seguidores do saudita Osama bin Laden, só têm contas a prestar a um Deus vingativo ou algo que o valha. O confronto é com a humanidade que pensa de forma diferente da deles e, por isso mesmo, na sua visão ensandecida, merece ser destruída de qualquer forma.

Uma antevisão desse inferno ocorreu em 1995. No dia 20 de março daquele ano, integrantes da seita japonesa Aum Shirinkyo embarcaram em trens de cinco linhas diferentes do metrô de Tóquio. Cada um levava uma lancheira e um guarda-chuva. Ao chegar a estações perto do centro da cidade, furaram as lancheiras com a ponta dos guarda-chuvas e desembarcaram, deixando-as para trás. Dentro delas havia ampolas com sarin, um tipo de gás paralisante dos mais perigosos que existem. As cenas que se seguiram foram de horror. Nas calçadas perto das estações, centenas de pessoas sofriam convulsões e sangravam pelo nariz, à espera de atendimento médico. O saldo final foi de doze mortos e 5.000 feridos.

O arsenal de armas químicas inclui gases, líquidos, aerossóis e pós venenosos. Elas começaram a ser usadas durante a I Guerra e estima-se que tenham provocado a morte de cerca de 100.000 soldados. O produto que marcou a época foi o gás mostarda, que destrói as mucosas. Durante a Guerra Fria, Estados Unidos, União Soviética e vários outros países estocaram grandes quantidades de substâncias tóxicas. Ao longo da década de 80, o Iraque lançou gases como o sarin, o tabun e o mostarda sobre tropas do inimigo Irã. A minoria curda também foi alvo da sanha iraquiana. Mais de 125 nações assinaram em 1993 um acordo que proíbe a fabricação de armas químicas e prevê a eliminação total dos arsenais existentes até 2007. Mas muitos países que as têm se recusaram a firmar o documento. Entre eles, Iraque, Líbia, Síria e Coréia do Norte, que abrigam e dão apoio a grupos terroristas.


Armas biológicas

ANTHRAX – Infecção provocada pela bactéria Bacillus anthracis. Adquirida por via respiratória, oral ou cutânea, é letalíssima. Origina-se de uma doença do gado comum no século XIX

VARÍOLA – Doença infecciosa de alto contágio erradicada na década de 70. Alguns países querem ressuscitá-la como arma química. É fatal em 20% a 30% dos casos
PESTE – Infecção causada por bactérias do gênero Yersinia. Seus vetores costumam ser insetos ou ratos. As principais variedades são a bubônica e a pneumônica. Sem tratamento adequado, podem matar em três dias

As armas biológicas são microorganismos que causam doenças mortais ou incapacitantes. Podem ser também toxinas extraídas de animais e plantas ou sintetizadas em laboratório. O primeiro e único país a usá-las foi o Japão, na guerra contra a China, nos anos 30. O Exército japonês tinha até uma divisão especializada nesse tipo de recurso, a Unidade 731, que lançava mão de expedientes traiçoeiros. Numa ocasião, 3.000 prisioneiros chineses foram libertados sem mais nem menos. Era uma armadilha. Antes de saírem da prisão, eles haviam sido infectados com a bactéria da febre tifóide, o que acabou ocasionando uma epidemia na China. Em 1942, o governo japonês fez chegar à província chinesa de Nanquim uma partida de chocolates contaminados com anthrax, a mais temida das armas biológicas (veja quadro acima). Até hoje, não há registro de ataques desse tipo perpetrados por terroristas.

Os compostos empregados nas armas químicas não são difíceis de ser criados. Mas para causar mortes em larga escala seriam necessárias enormes quantidades de substâncias. Um estudo divulgado na semana passada, em Washington, mostra que terroristas levariam dezoito anos de trabalho ininterrupto para produzir artesanalmente 2 toneladas de sarin, quantidade mínima para matar 10.000 pessoas. Eles também encontrariam muita dificuldade na hora de espalhar gases letais e afins. Lançá-los de um avião pulverizador de inseticida acarretaria a perda de cerca de 90% do veneno, em virtude da dispersão pelo vento e de outros fatores ambientais. Para provocar a morte de milhares de pessoas, é necessário ter bombas especialmente desenvolvidas para esse fim e uma esquadrilha de aviões para atirá-las. Com as armas biológicas ocorre o oposto. Bactérias e vírus colocados na caixa-d'água de um prédio ou no reservatório de uma cidade podem acarretar milhares de mortes. Também é simples espargi-los com pequenos aviões. Produzir microorganismos em laboratório, no entanto, é complicadíssimo. A seita Aum Shinrikyo, responsável pelo atentado com sarin no metrô de Tóquio, fabricou o gás ela própria, já que contava com vários cientistas entre seus seguidores. Os fanáticos japoneses, no entanto, não foram capazes de criar armas biológicas, embora tivessem feito várias tentativas.


AFP
ESTADO TERRORISTA
Várias bombas iraquianas que continham gases tóxicos foram destruídas após a Guerra do Golfo. Suspeita-se, no entanto, que o país de Saddam Hussein tenha voltado a fabricar esses armamentos

O grande perigo, assim, é aquele que foi levantado pelo vice-secretário de Defesa dos Estados Unidos, Paul Wolfowitz, durante uma reunião da Otan na quarta-feira passada: que algum país que apóie o terrorismo municie grupos extremistas. Na época da Guerra do Golfo, a CIA avaliava que o Iraque do ditador Saddam Hussein possuía em torno de 150 toneladas de sarin e 400 toneladas de gás mostarda, além de mísseis desenvolvidos especialmente para lançá-los contra alvos militares e civis. Grande parte desse arsenal foi destruída nos bombardeios americanos, mas existe a suspeita de que os iraquianos tenham voltado a fabricar essas substâncias. Outro dado preocupante é o estoque de armas biológicas ainda existente na Rússia e em ex-repúblicas soviéticas. Sabe-se que os comunistas produziram quantidades formidáveis de anthrax. Em um de seus laboratórios, localizado em Sverdlovsk (hoje Ekaterinburgo), houve um acidente em 1979 que matou pelo menos 68 pessoas. Estima-se que a União Soviética tenha produzido, durante a Guerra Fria, algo em torno de 350.000 toneladas de agentes químicos e biológicos, contra 40.000 dos Estados Unidos. É impossível saber com certeza quanto desse arsenal foi desativado. Em mãos erradas, tais armas poderiam engendrar pesadelos tão traumatizantes quanto a tragédia de 11 de setembro.


Armas químicas

GÁS MOSTARDA – É um composto à base de enxofre que provoca danos nas mucosas do corpo. Em altas concentrações, pode levar à cegueira e à morte. Vem sendo usado desde a I Guerra Mundial

ALERTA GERAL
Um operador de negócios em Nova York mantém ao alcance da mão a sua máscara contra gases tóxicos e substâncias radioativas. O acessório de proteção também está sendo distribuído à população de Israel

Um espectro ronda a América: o de um ataque químico ou biológico. Infelizmente, ele ultrapassa o campo da paranóia. Desde os atentados aéreos ao Pentágono e ao World Trade Center, em 11 de setembro, os cenários mais improváveis passaram a ocupar o terreno do possível. O alarme soou depois que o FBI, a polícia federal dos Estados Unidos, descobriu que um dos terroristas suicidas, Mohamed Atta, recolhera informações sobre o funcionamento de aviões normalmente usados na pulverização de venenos agrícolas. Para completar o quadro preocupante, nos pertences de alguns deles foram encontrados formulários para a obtenção de carteiras de motorista especiais. Esses documentos lhes permitiriam dirigir caminhões carregados com produtos químicos. O medo dos americanos fez com que disparasse a venda de máscaras NBC – que dão proteção parcial contra gases tóxicos e microorganismos e impedem o contato com ar contaminado por radioatividade. Fora dos Estados Unidos, o temor também é grande. Em Israel, um dos alvos preferenciais do terror islâmico, o Exército está distribuindo máscaras à população, tal como aconteceu durante a Guerra do Golfo, em 1991.

Há tempos a hipótese de um grande ataque com gases ou germes faz parte do universo dos especialistas em terrorismo. Assim como a de um atentado com armas nucleares. Não é roteiro de filme: ogivas estocadas na empobrecida Rússia ou em um país politicamente instável, como o Paquistão, podem cair nas mãos de um grupo extremista. Os terroristas islâmicos representam a maior ameaça nesse sentido pela simples razão de que não têm nada a perder. Como explica o americano Jonathan B. Tucker, editor do livro Assessing Terrorist Use of Chemical and Biological Weapons (Avaliação do Uso Terrorista de Armas Químicas e Biológicas), organizações com uma agenda política e ideológica definidas dificilmente utilizariam arsenais de destruição maciça. Sua violência é, por assim dizer, mais bem calibrada, direcionada a alvos limitados e específicos. Com isso, não angariam uma antipatia universal à sua causa e não detonam uma repressão mais severa por parte dos governos. Já fanáticos, como os seguidores do saudita Osama bin Laden, só têm contas a prestar a um Deus vingativo ou algo que o valha. O confronto é com a humanidade que pensa de forma diferente da deles e, por isso mesmo, na sua visão ensandecida, merece ser destruída de qualquer forma.

Uma antevisão desse inferno ocorreu em 1995. No dia 20 de março daquele ano, integrantes da seita japonesa Aum Shirinkyo embarcaram em trens de cinco linhas diferentes do metrô de Tóquio. Cada um levava uma lancheira e um guarda-chuva. Ao chegar a estações perto do centro da cidade, furaram as lancheiras com a ponta dos guarda-chuvas e desembarcaram, deixando-as para trás. Dentro delas havia ampolas com sarin, um tipo de gás paralisante dos mais perigosos que existem. As cenas que se seguiram foram de horror. Nas calçadas perto das estações, centenas de pessoas sofriam convulsões e sangravam pelo nariz, à espera de atendimento médico. O saldo final foi de doze mortos e 5.000 feridos.

O arsenal de armas químicas inclui gases, líquidos, aerossóis e pós venenosos. Elas começaram a ser usadas durante a I Guerra e estima-se que tenham provocado a morte de cerca de 100.000 soldados. O produto que marcou a época foi o gás mostarda, que destrói as mucosas. Durante a Guerra Fria, Estados Unidos, União Soviética e vários outros países estocaram grandes quantidades de substâncias tóxicas. Ao longo da década de 80, o Iraque lançou gases como o sarin, o tabun e o mostarda sobre tropas do inimigo Irã. A minoria curda também foi alvo da sanha iraquiana. Mais de 125 nações assinaram em 1993 um acordo que proíbe a fabricação de armas químicas e prevê a eliminação total dos arsenais existentes até 2007. Mas muitos países que as têm se recusaram a firmar o documento. Entre eles, Iraque, Líbia, Síria e Coréia do Norte, que abrigam e dão apoio a grupos terroristas.


Armas biológicas

ANTHRAX – Infecção provocada pela bactéria Bacillus anthracis. Adquirida por via respiratória, oral ou cutânea, é letalíssima. Origina-se de uma doença do gado comum no século XIX

VARÍOLA – Doença infecciosa de alto contágio erradicada na década de 70. Alguns países querem ressuscitá-la como arma química. É fatal em 20% a 30% dos casos
PESTE – Infecção causada por bactérias do gênero Yersinia. Seus vetores costumam ser insetos ou ratos. As principais variedades são a bubônica e a pneumônica. Sem tratamento adequado, podem matar em três dias

As armas biológicas são microorganismos que causam doenças mortais ou incapacitantes. Podem ser também toxinas extraídas de animais e plantas ou sintetizadas em laboratório. O primeiro e único país a usá-las foi o Japão, na guerra contra a China, nos anos 30. O Exército japonês tinha até uma divisão especializada nesse tipo de recurso, a Unidade 731, que lançava mão de expedientes traiçoeiros. Numa ocasião, 3.000 prisioneiros chineses foram libertados sem mais nem menos. Era uma armadilha. Antes de saírem da prisão, eles haviam sido infectados com a bactéria da febre tifóide, o que acabou ocasionando uma epidemia na China. Em 1942, o governo japonês fez chegar à província chinesa de Nanquim uma partida de chocolates contaminados com anthrax, a mais temida das armas biológicas (veja quadro acima). Até hoje, não há registro de ataques desse tipo perpetrados por terroristas.

Os compostos empregados nas armas químicas não são difíceis de ser criados. Mas para causar mortes em larga escala seriam necessárias enormes quantidades de substâncias. Um estudo divulgado na semana passada, em Washington, mostra que terroristas levariam dezoito anos de trabalho ininterrupto para produzir artesanalmente 2 toneladas de sarin, quantidade mínima para matar 10.000 pessoas. Eles também encontrariam muita dificuldade na hora de espalhar gases letais e afins. Lançá-los de um avião pulverizador de inseticida acarretaria a perda de cerca de 90% do veneno, em virtude da dispersão pelo vento e de outros fatores ambientais. Para provocar a morte de milhares de pessoas, é necessário ter bombas especialmente desenvolvidas para esse fim e uma esquadrilha de aviões para atirá-las. Com as armas biológicas ocorre o oposto. Bactérias e vírus colocados na caixa-d'água de um prédio ou no reservatório de uma cidade podem acarretar milhares de mortes. Também é simples espargi-los com pequenos aviões. Produzir microorganismos em laboratório, no entanto, é complicadíssimo. A seita Aum Shinrikyo, responsável pelo atentado com sarin no metrô de Tóquio, fabricou o gás ela própria, já que contava com vários cientistas entre seus seguidores. Os fanáticos japoneses, no entanto, não foram capazes de criar armas biológicas, embora tivessem feito várias tentativas.
O grande perigo, assim, é aquele que foi levantado pelo vice-secretário de Defesa dos Estados Unidos, Paul Wolfowitz, durante uma reunião da Otan na quarta-feira passada: que algum país que apóie o terrorismo municie grupos extremistas. Na época da Guerra do Golfo, a CIA avaliava que o Iraque do ditador Saddam Hussein possuía em torno de 150 toneladas de sarin e 400 toneladas de gás mostarda, além de mísseis desenvolvidos especialmente para lançá-los contra alvos militares e civis. Grande parte desse arsenal foi destruída nos bombardeios americanos, mas existe a suspeita de que os iraquianos tenham voltado a fabricar essas substâncias. Outro dado preocupante é o estoque de armas biológicas ainda existente na Rússia e em ex-repúblicas soviéticas. Sabe-se que os comunistas produziram quantidades formidáveis de anthrax. Em um de seus laboratórios, localizado em Sverdlovsk (hoje Ekaterinburgo), houve um acidente em 1979 que matou pelo menos 68 pessoas. Estima-se que a União Soviética tenha produzido, durante a Guerra Fria, algo em torno de 350.000 toneladas de agentes químicos e biológicos, contra 40.000 dos Estados Unidos. É impossível saber com certeza quanto desse arsenal foi desativado. Em mãos erradas, tais armas poderiam engendrar pesadelos tão traumatizantes quanto a tragédia de 11 de setembro.


Armas químicas

GÁS MOSTARDA – É um composto à base de enxofre que provoca danos nas mucosas do corpo. Em altas concentrações, pode levar à cegueira e à morte. Vem sendo usado desde a I Guerra Mundial

VX – Gás paralisante à base de fósforo. Provoca dor de cabeça, náuseas e convulsões. Em pouco tempo a vítima entra em coma e pode morrer. O Iraque é suspeito de ainda possuir reservatórios desse gás
SARIN – Gás paralisante que ficou famoso por ter sido usado no único atentado terrorista com armas químicas da História, em 1995, no metrô de Tóquio. Sua composição é semelhante à do VX, e os efeitos também

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ESTADO TERRORISTA
Várias bombas iraquianas que continham gases tóxicos foram destruídas após a Guerra do Golfo. Suspeita-se, no entanto, que o país de Saddam Hussein tenha voltado a fabricar esses armamentos

http://veja.abril.com.br/031001/p_088.html