segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Por que insistir no Afeganistão


12/10/2009

As eleições recentes no Afeganistão e o relatório estratégico do general McChrystal levantaram mais uma vez questões, dúvidas e incertezas sobre a construção do Estado no Afeganistão. Essas questões merecem ser respondidas, com clareza e rapidez
O que temos a mostrar depois de lutar no Afeganistão por oito anos?
Apesar de a iniciativa militar internacional ter durado oito anos, só recentemente ela se transformou numa guerra focada. A ajuda oferecida ao Afeganistão entre 2002 e 2008 foi menos do que um doze avos das necessidades estimadas. As tropas ficaram confinadas em Cabul até 2004; e desde então os aumentos de tropas foram reativos e lentos, permitindo ao Talebã se reagrupar em refúgios ao longo da fronteira.

A estratégia revelada pelo presidente Obama em março ainda precisa ser totalmente implantada. As tropas que foram prometidas ainda não estão em campo. Por que deveria haver uma mudança de resultados se não houve muita mudança nas ações?

Por que estamos nos concentrando no Afeganistão?
Porque o Afeganistão é uma região com armas nucleares única que também está envolvida numa luta precária contra o terrorismo. Uma retirada prematura do Afeganistão poderia levar a uma "somalização" do Afeganistão que deixaria o Paquistão mais vulnerável ao Talebã, exacerbaria as tensões entre a Índia e o Paquistão e ameaçaria arrastar toda a região para a violência.

O Afeganistão é um país muito atrasado para progredir?
O Afeganistão nem sempre esteve em guerra consigo mesmo. Nos anos 60 e 70 e até mesmo nos 80, homens e mulheres estudavam juntos nas universidades de Cabul. As mulheres votavam e trabalhavam no governo como ministras e integrantes do Parlamento.

George Will escreveu que estar no país é "como andar pelo Velho Testamento". Essa descrição só indica as consequências das grandes lutas de poder da época da Guerra Fria e a negligência subsequente que permitiu que o Talebã ganhasse poder.

A devastação do país é de fato a resposta para outra questão recente: por que estamos no Afeganistão? Para assumir finalmente a responsabilidade pela reconstrução de um país de cuja dizimação somos todos cúmplices.

Qual é o objetivo final no Afeganistão?
Em março, o presidente Obama ajudou a estabelecer nosso objetivo em palavras claras: construir um Estado estável que impedirá grupos terroristas e extremistas de se enraizarem novamente. A audácia desse objetivo - um Estado estável - levou alguns a criticarem-no por falta de meios definidos e uma conclusão clara. Então eis alguns meios definidos: um fortalecimento do Exército afegão e das forças policiais para 260 mil homens, suficiente para permitir que as forças afegãs garantam a segurança do país sem uma presença internacional.

Nós já não atingimos nosso objetivo?
Alguns alegam que a Al Qaeda foi derrotada no Afeganistão, e, portanto, a missão foi cumprida. Mas a Al Qaeda está simplesmente sentada esperando no Paquistão, um país cuja fronteira com o Afeganistão é disputada e frágil. Uma retirada prematura não apenas permitiria aos extremistas amplificarem sua ameaça ao Paquistão; mas também poderia permitir que a Al Qaeda reconquistasse território como base de operações.

(Zahir Tanin é representante do Afeganistão na Organização das Nações Unidas.)

FOTO:
Forças de segurança socorrem ferido em ataque contra base da Otan (Organização para o Tratado do Atlântico Norte) em Cabul, no Afeganistão
http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/herald/2009/10/12/ult2680u914.jhtm

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