sábado, 19 de setembro de 2009
Novo escudo antimísseis
8/09/2009
Novo escudo antimísseis muda modo de pensar tradicional da Guerra Fria
O novo plano apresentado pelo presidente Barack Obama para um escudo antimísseis contra o Irã, na quinta-feira, muda a visão de Ronald Reagan de um sistema Guerra nas Estrelas: em vez de se concentrar primeiro em proteger os Estados Unidos, ele transfere o esforço imediato para defesa da Europa e do Oriente Médio.
Ele está longe de ser o escudo impermeável descrito por Reagan em termos reluzentes em 1983, um anúncio que se transformou tanto em um triunfo diplomático quanto em um fracasso tecnológico. Desde então, a defesa antimísseis passou a ser mais um assunto de política internacional do que uma nova tecnologia militar.
Nos últimos anos da Guerra Fria, ele ajudou a pressionar os soviéticos a aceitarem os acordos que reduziram acentuadamente os arsenais nucleares, um processo que Obama espera reviver no final do ano. Nos anos George W. Bush, o assunto envolvia a expansão da Otan e, sob o pretexto da construção de bases antimísseis para proteção contra um ataque norte-coreano, um alerta sutil à China de que seu poder no Pacífico não ficaria sem resposta.
Na era Obama, a visão desceu das estrelas para o mar. O presidente, que ainda estava na faculdade durante o famoso discurso de Reagan sobre defesa antimísseis, recorreu a uma versão em menor escala da tecnologia, que seria a primeira baseada em navios, para uma nova missão: convencer Israel e o mundo árabe de que Washington está agindo rapidamente para combater a influência do Irã, ao mesmo tempo que abre negociações diretas com Teerã pela primeira vez em 30 anos.
Para Obama, é um passo cheio de riscos. Horas após seu anúncio, acusações eram feitas de que em seu primeiro grande confronto com os russos, ele recuou, cedendo à oposição de Moscou ao plano de Bush de implantar defesas antimísseis na Polônia e na República Tcheca.
"O lado político disto o conduziu em outra direção, apesar de parecer ter recuado", disse William Perry, que serviu como secretário de Defesa do governo Clinton. "Mas ele optou pelo estado atual da tecnologia - e por onde se encontra a ameaça."
Durante a campanha presidencial do ano passado, o escudo antimísseis foi um território complicado para Obama. Sua base liberal é alérgica a estas palavras. Obama, ávido em mostrar que não é nem um neófito e nem fraco em defesa, falou sobre abraçar as tecnologias "comprovadas e custo-eficazes".
Nove meses após o início de sua presidência, Obama começou a descrever o que queria dizer. Ele não está abandonando as duas bases antimísseis construídas em solo americano nos anos Bush, uma no Alasca e uma na Califórnia. Mas seus assessores - liderados por um veterano da Guerra Fria em seu Gabinete, o secretário de Defesa, Robert M. Gates - argumentaram na quinta-feira que o Irã e a Coreia do Norte estavam demorando muito mais para desenvolver mísseis intercontinentais do que muitos temiam há uma década. A urgência, eles argumentaram, está em tratar de uma ameaça mais iminente: os mísseis de curto e médio alcance do Irã
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Obama agora enfrenta o mesmo desafio que Reagan: vencer o debate sobre se sua versão da defesa antimísseis é viável, ou ao menos viável o bastante para servir como uma arma política.
A principal dessas armas é o Shahab III, o míssil que pode atingir Israel e partes da Europa. Também é o míssil que os serviços de inteligência americanos, israelenses e europeus apontam que o Irã pretende usar com uma ogiva nuclear. O Irã nega, mas se recusou a responder às perguntas dos inspetores internacionais a respeito dos documentos que parecem ligar o programa de mísseis aos seus esforços nucleares.
O impasse alimentou a convicção dentro da Casa Branca de que a ameaça iraniana precisa ser respondida. Mas funcionários argumentaram na quinta-feira que a forma mais rápida e certa de conseguir esta meta é descartar o plano de Bush, que posicionaria baterias antimísseis longe demais do Irã para serem úteis contra mísseis de curto e médio alcance, e colocá-las mais próximas de Teerã.
"Uma das realidades da vida é que o inimigo tem um voto", disse o general James E. Cartwright, vice-chefe do Estado-Maior das Forças Armadas.
Mas os críticos de Obama argumentam que apesar do Irã ser acertadamente o principal foco da defesa antimísseis, ele não é o único, e que ao desmontar o plano de Bush, o novo presidente está enfraquecendo os aliados americanos.
"Eu temo que a decisão do governo fará exatamente isso", disse na quinta-feira o senador John McCain, o rival republicano de Obama na eleição presidencial do ano passado, acrescentando que a decisão ocorre em "um momento em que os países do Leste Europeu estão cada vez mais desconfiados do renovado aventureirismo russo".
Mas Obama está apostando que, com tempo, poderá acalmar os sentimentos feridos na Europa. E está apostando que sua credibilidade vai melhorar no Oriente Médio, onde agora pode argumentar que o escudo antimísseis americano protegerá tanto Israel quanto os países árabes, principalmente a Arábia Saudita e o Egito. Há sinais de que todos eles podem estar interessados em capacidade nuclear própria - especialmente se acreditarem que os Estados Unidos não se erguerão contra o Irã.
Mas Obama também pode estar vulnerável às acusações de que poderia deixar partes do Estados Unidos indefesas caso o Irã consiga maiores avanços em mísseis de longo alcance. Seus críticos apontam para o lançamento de um satélite espacial pelo Irá, em fevereiro. O satélite orbitou a Terra por quase três meses, passando repetidamente sobre os Estados Unidos.
"O Irã já demonstrou que tem capacidade para desenvolver mísseis de longo alcance", disse Robert Joseph, um dos arquitetos da estratégia antimísseis de Bush, que é altamente crítico da decisão de Obama. "Eles têm tanto a capacidade quanto a intenção de seguir em frente."
O governo Obama rebate que o Irã não possui mísseis de longo alcance e que a ameaça está se desenvolvendo mais lentamente do que o esperado.
Vinte e seis anos após o famoso discurso de Reagan, o elemento mais visível de sua estratégia é um sistema de interceptadores de mísseis que se espalha pelo Alasca e por uma base irmã na Califórnia. Os "veículos de morte" do sistema são lançados no espaço e destroem as ogivas inimigas -supostamente um único lançamento norte-coreano - por força de impacto.
Especialistas militares e privados disseram que os interceptadores da Costa Oeste também poderiam destruir uma ogiva iraniana, a menos que siga na direção da Costa Leste americana. Este é o motivo do interesse do governo Bush de montar interceptadores adicionais na Polônia. Para os defensores da visão clássica da defesa antimísseis, é inconcebível deixar a Costa Leste desprotegida.
Mas os críticos do sistema interceptador dizem que seus testes de voo repetidamente apresentaram resultados aquém do desejado, e chamam sua suposta proteção de uma miragem.
Agora vem o próximo debate: se o plano de Obama é mais tecnologicamente viável do que os esforços anteriores.
Obama agora enfrenta o mesmo desafio que Reagan: vencer o debate sobre se sua versão da defesa antimísseis é viável - ou ao menos viável o bastante para servir como uma potente arma política.
http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/2009/09/18/ult574u9683.jhtm
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